sábado, julho 30, 2005

PT saudações PT: corrupção histórica e corrupção petista


Li no Jornal do Cemmercio de ontém um depoimento no mínimo engraçado. Um deputado do PT falava de « corruptos históricos ». Taí uma boa maneira de distinção : pior do que ser corrupto é vir sendo corrupto a muito tempo, é ter uma história de corrupção. Uma idéia cretina e burra além de deslocada e política, no pior sendido que a palavra política pode ter. A crise é reveladora da crise. Parece doença. O partido descobriu um tumor malígno em estado já bastante evoluído. Internamente o cancro parece ser centralizado no campo majoritário(hoje corrupto, só hoje? Só ele?). E tudo indica que se escapar com vida o doente vai precisar de terapeuta. Não é de terapeuta que precisam os que perdem um membro do corpo e começam a sentir as dores das marcas deixadas pela perda ? O PT vai mancar ? Vai usar tapa-olho ? Não seria um erro esse o de condicionar o debate interno ao esforço do PT de amputar a parte do corpo tida como doente?

Essas perguntas não são retóricas. Ela são reflexos (não chegam a ser reflexões) de alguém que acompanhou as últimas campanhas políticas dos candidatos do PT em Recife nas eleiçoões municipais e estaduais. Aparelhamento de sindicatos, lógica capitalista e mercantil de busca e divisão dos votos (inclusive com a prática do clientelismo e da compra de votos) fazem parte do modo de alguns petistas buscarem o espaço no poder. Nesse sentido era incrível e triste perceber no discurso de alguns militantes a idéia segundo a qual sem isso, sem esses instrumentos históricamente desprezados e criticados pelo discurso oficial do partido, as eleições estariam perdidas por antecedencia. E, com a crise, não seria esse tipo de prática que deveria está sendo questionada ? Como o PT veio a ser tudo aquilo que questionava historicamente ? E mesmo se levado a sério o problema da operacionalidade dos instrumentos mediadores por uma disputa efetiva do poder, não parece tal discurso abstrair a história daqueles fundadores do partido, as história dos “piões ganhando eleições”, dos trabalhadores, ainda trabalhadores, disputando os espaços políticos por meios e mecanismos desatrelados do grande capital ?

A ética nunca teve nem nunca terá posição política, eis o que deve ser o maior ensinamento dessa crise aos antigos supostos detentores do « monopólio da ética ». A moralidade de uma instituição e dos individuos que a ela se integram depende de uma prática que só se distingue efetivamente(e não apenas discursivamente) de outras práticas se for concretamente diferente das demais. Pode parecer tautologia o que digo, mas como não ver valor numa redundância reveladora de uma postura tão imprópria como a daqueles que pensam que, pelo fato de ser de esquerda (e ser de esquerda parece que é sempre sinônimo de progressista, gente boa e, por que não dizer ético ?) estariam imunes ao despropósito da corrupção mais cínica ? Ninguém é « éticamente bem sucedido » porque é de esquerda ou porque é do PT. A defesa ridícula de alguém que tenta se defender dizendo que não pode ser acusado de corrupção por « corruptos históricos » me faz pensar nas dificuldades as quais o partido terá de enfrentar se quiser encontrar as boas muletas para sair dessa crise macando, como não poderia deixar de ser, mas com alguma dignidade.
Jampa

quarta-feira, julho 20, 2005

Lula: ou a tentativa inútil de Jampa de ser sociólogo


Dizer que o povo mesmo quando chega ao poder é vítima de si mesmo pode parecer puro miserabilismo. Mas me arrogo à tetativa e ao descuidado e intento dizer que no caso de Lula (homem do povo e presidente da república) nada parece ser mais verdadeiro e sem ismo. Não falo da crise política (que por sinal ninguém parece (se) perguntar se é uma crise da política ou de política ou da falta de política ou da ausência de certas políticas para que no fim tudo pareça apenas um "é tudo política mesmo"), mas da forma com a qual tratamos de salvar em algum sentido o nosso presidente(se confio nas pesquisas de opinião sobre a credibilidade estável dos brasileiros em Lula) ou em criticá-lo. O nosso lider político carismático é vítima de suas ilusões voluntaristas de sindicalista, é vítima de sua ligação direta e não mediada com à retórica(que no seu caso não é um discurso que dá "impressão de improvisação", como num discurso acadêmico, mas é improvisação mesmo), é vítima mesmo das análises sempre "intencionadas" para bem e para mal dos "filósofos" brasileiros de primeira grandeza sempre aptos a dizer para os homens do povo "o bom caminho da razão" nas frases recapitulativas de tipo "eu não disse que ia ser assim" ou, em tom mais condizente com a auto-convicção desses dententores do saber "après-coup", " tá vendo, não quis me escutar quando criticava isso e aquilo outro". Não ignoro as resposabilidades, mas reconhecendo a arbitrariedade de certas lógicas escolho falar da igenuidade e da ignorância.
O povo é vítima do fato de ser povo poderia ser um bom chavão de contorno parcialmente análitico em termos sociológicos e Lula seria seu ideal tipo mais completo. Pois o povo vem sendo vítima do populismo e do miserabilismo do povo. Nada é mais social do que o indivíduo, diz-se em sociologias comtemporaneas. Lula, esse ser social imbuído de povo.
E, do outro lado mas de mesmo lado, esquerda e direita de uma "exterioridade" do poder, nós das opiniões "extra-ordinárias", opiniões do "não-povo", continuaremos em nossa parcialidade cínica de detendores da moral sagrada a criticar até o fim dessa crise a incarnação do mal nas "pessoas corrompidas pelo poder". Nós, vítimas do povo sem ser povo, nós intelectuais íntegros e de reconhecimento, não nos reconhecemos nesse governo de corruptos, dizem os sabichoões.
E Jampa que lê todas essas abobrinhas nos jornais todos os dias parece se apoquentar e, na posição que é a sua, àquela de estudante de sociologia com posição familiar e social privilegiada por causa da história recente de chegada ao poder do PT, não cosegue julgar com a devida distância, porque na sua posição qualquer tomada de posição parecerá indevida em termos de distanciamento, oferece apenas uma divagação sem conseqüencias ao tema de atualidade.

segunda-feira, julho 04, 2005

"Mas a reflexividade - atividade apontada a você como desmistificadora - também não seria assunto de especialista! ?"

Sim, mas o verdadeiro pensador ironiza a reflexividade assim como o verdadeiro filósofo, como disse Pascal, ridiculariza a filosofia. Assim sendo, é preciso aceitar o desafio inscrito no illusion da escolastica, na pretensão escolastica de universilidade, que é na verdade, quantos já não o disseram?(Nietszche, Witggenstein,etc.), efeito da universalização efetuada pela razão, e, descreditando mesmo se ainda crendo na força dialética dessa razão, ou seja, intrumentalizando a razão escolastica contra si mesma, num racionalismo histórico radicalmente reflexivo, produzir uma compreensão mais real entre as diferenças do "mundo onde vivemos" e do "mundo onde pensamos o mundo". Porque talvez o maior erro da "raison raisonante" seja esse de fazer economia da reflexão sobre as condições socio-históricas da universalização efetuada pela razão mesma. Economia que produz uma auto-confiança desmesurada do homem nos valores emancipadores da verdade propiciados pelo esforço da razão escolastica (principios da Aufklarung em suma) .

Claro que o meu comentário do blogue foi uma crítica fácil que implica a aceitação comum(doxa esclarecida) da superioridade da razão crítica se comparada à opinião pura e simples do senso comum mais banal (doxa stricto senso). Ele visava traçar o intinerário da crítica que tem como obrigação de doxa esclarecida de blogueiro restituir a diferença de nível de reflexividade entre tipos de construção de opinião distintos (as duas doxas em questão) sobre a relidade(episteme) das coisas do mundo(no caso da doxa esclarecida, trantando de diferenciar as coisas do mundo do mundo das coisas).

Não discordo que a reflexividade seja coisa de especialista. Mas não o é (necessariamente) no sentido do absolutismo da especialidade que foge da reflexividade a qual ela(a especialidade) deve se submeter. Uma coisa é aceitar que o sociólogo, munido que está dos instrumentos de reflexão sobre a sociedade e, indo mais além, munido de ferramentas para pensar os instrumentos de sua própria reflexão sobre a mesma sociedade, tenha mais condição, enquanto especialista, de desenvolver um discurso mais condizente com a realidade social do que aqueles que "apenas vivem" o universo estudado. Outra coisa é fazer dessa distância entre tipos de doxa-, distância gerada, entre outras coisas, pelo "tempo escolastico", ou seja, pela temporalidade própria dessa "bricadeira levada a sério"(para falar como Platão) que é pensar-, uma fronteira intransponível entre universos dinâmicos que se confrontam. Teoria e prática também possuem continuidades, graças! Nenhuma teoria teorica pode existir fora de uma prática teorica dessa teoria. Tautologia que rende bons frutos e impede o risco da falsa modestia intelectual (que restando no discurso reflexivo deve reivindicar sua autoridade).
Abraços saudosos,
Jampa.

Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.