domingo, abril 23, 2006

estudando o teatro de Recife


Aproveitando o ensejo de Wander, vou aprofundar a crise importada de um habitus maldito. Agradecido senhora Wander... Estou começando com Anderson a fazer uma pequena pesquisa sobre o campo teatral do Recife. Estamos na fase inicial, fazendo a escolha do material empírico e de ferramentas sociológicas para dar conta desse universo específico. Quais são nossas motivações?

Olha, eu vou falar por mim e por Anderson sem ter autorização dele, mas o faço, apenas tentando captar o espírito de nossas conversas iniciais, de algumas de nossas afinidades eletivas.

Acho que a motivação principal para essa pesquisa é antes de tudo, digamos assim, vocacional. Vocacional no sentido de buscar o sentido desse chamado que diz respeito ao ofício de sociólogo que pensamos ser por formação sem realizá-lo( efetivação prática do saber sociológico incorporado). Entender porque levamos tanto tempo num período de formação tão longo para entender que muitas vezes ignoramos a diferença fundamental entre o saber-feito e o saber-sendo-feito, próprio da elaboração científica, da produção do conhecimento.E daqui se tira um dos motivos para justificar o vocabulário inicialmente impregnado de termos ligados à sociologia de Pierre Bourdieu. Talvez junto com Elias Bourdieu seja ( a diferença de Giddens, Habermmas e os ilustres teorizadores à Alexander) um dos principais defensores de uma sociologia que trabalha a partir dos fundamentos empíricos da sociologia, traduzindo um aspecto daquilo que sentimos mais falta por aqui. Não sei se estamos certos, mas achamos que não existe muita coisa sendo produzida a respeito das lógicas de funcionamento da sociedade a qual temos acesso mais direto ( esse acesso direto é sabidamente mediado por nossas preocupações e categorias e, nesse sentido específico, é um acesso indireto): a recifense, por exemplo... Então a idéia era pergar um material empírico e trabalhá-lo na construção de um objeto sociológico confrontando questões ao mesmo tempo empíricas e teóricas.

A idéia de trabalhar o teatro veio por causa da existência de um material inicial bastante instigador: a existência de videos com debates entre pessoas envolvidas no mundo do teatro. A possibilidade de trabalhar esse material, de problematizá-lo, de tornar inteligível uma série de debates onde pessoas dizem e defendem idéias muitas vezes contraditórias, de entender como funciona esse universo sem tomar como certo o seu modo de funcionamento por via puramente teórica, ou por via de decalque da realidade alheia, foi essa possibilidade que nos motivou a começar nesse projeto.

Esse ponto comum espero que dê energia suficiente para vencer as limitações do meio e as nossas próprias(mais particulares). Não temos uma visão uniforme do que deva ser o trabalho do sociólogo, nem sei se temos realmente uma visão propriamente dita a esse respeito, mas esse esforço de leitura do mundo social, de confrontação com o material, é o fomentador de nosso desejo de produzir conhecimento sociológico nesse momento.

Para efeito de propaganda: aceitamos colaborações de voluntários corajosos pois as transcrições dos videos já começaram.

Gostaria também, antes de ir, de comentar a pergunta de Hammer com relação aos amantes da alienação.

Chamei de amantes da alienação os críticos da atitude crítica nas ciências sociais. É umas posição extremista minha, mas que é uma posição na qual acredito. Alienado são aqueles que aceitam o mundo da vida (no sentido Hurssel) da ciência e criticam a reflexividade que é a única capaz de deter os efeitos do mundo tido com tal (take for granted) da própria produção científica. Alienados são os homens de ciência que pensam que seu estatuto de cientista, com as práticas científicas que fazem parte desse mundo tido como naturalmente reflexivo, é suficiente para garantir a reflexividade necessária para o melhoramento da produção cinentífica. Era nesse sentido específico que eu falava de amor a alienação: no sentido da aceitação passiva da parcialidade do conhecimento que às posições críticas só aceitam de maneira mais controlada. Acho que é isso.

Abraços.

Jampa.

Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.