De Nascimento do Passo lembro de dois momentos: meu pai fazendo aulas de frevo com ele e uma visita que fiz à casa dele com Valéria Vicente.
Hoje vinha ouvindo a CBN no carro e soube de sua morte. Reproduzo aqui um e-mail desabafo de Valéria que penso ser também uma
denúncia sobre o trato com nossos artitas.
Gostaria de dividir minha tristeza diante do falecimento do inventor da dança frevo, como conhecemos hoje. Nascimento do Passo foi o grande tradutor de uma dança extremamente subversiva criada no Recife no final do séc. XIX e início do século XX.
O frevo de rua, que de tão debochado ficava fora dos cordões dos clubes de frevo, até meados do séc. XX, foi disseminado através do trabalho pedagógico de Nascimento. Nascimento do Passo defendia o frevo como dança, como ginástica e como terapia. De fato, ao ser afastado da dança que praticamente ressuscitou, morreu. Primeiro afetivamente, depois três AVCs reduziram sua capacidade de movimento e fala. Agora, um câncer no estômago o levou. Antes, uma de suas ex-esposas conseguiu retirar cinqüenta por cento de sua pensão por “abandono de lar”.
Diante da morte:
A sensação de que poderíamos ter sido mais veementes na ajuda financeira e humana. A sensação de injustiça a um homem que deu tudo pela arte e que em troca foi condenado antes do julgamento.
A responsabilidade diante de seu legado.
É importante que se saiba: o Método Nascimento do Passo de ensino de frevo não é mais ensinado na Escola Municipal. A falta de uma política de registro e transmissão para a dança do frevo, respeitando as etapas históricas, suas aquisições e limitações de forma séria, nos coloca como partícipes de uma perda inestimável do nosso patrimônio imaterial. Atualmente, apenas o Grupo Guerreiros do Passo (http://guerreirosdopasso.blogspot.com) mantém o trabalho de transmissão desse método. Curiosamente,este grupo não conta com nenhum apoio público e este ano não desfilou com sua Troça, no carnaval, por falta de patrocínio.
Valéria