quinta-feira, setembro 24, 2009

Toda sua vida para chegar aqui.

Eu e meu amigo Bernardo Jurema passamos um dia inteiro o ano passado passeando pelo Cemitério de Santo Amaro. Tiramos algumas fotos. A idéia era voltar mais vezes. Visitar outros cemitérios, fotografar a vida que vive às proximidades da morte. A atividade causou estranhamento de alguns, o que já era de se esperar. Uns dizendo ser uma bizarrice de nossa parte, outros julgando uma falta de respeito com a memória dos mortos. Ouvimos um pouco de tudo e de tudo um pouco.

O fato é que fomos lá e encontramos coisas muito interessantes. Por trás dos jazigos, tumbas e covas ficam escondidos aqueles traços e troços da vida que só a morte ajuda a decifrar mais um pouquinho. Claro, com o empurrãzinho da consciência amarga dos que ainda estão em vida.

Dia lá dia cá serão postadas aqui algumas fotos. Umas serão comentadas. Já outras, como as que seguem, não. O objetivo: apenas captar aspectos temáticos, para que a imaginação de cada um sugira com mais liberdade aquilo que as fotografias revelam como registro. Uma ironia, um sarcasmo. Tudo vale diante de algo tão indecifrável. Só não vale ter medo da dita cuja... afinal, no final, dia ou outro...

Hoje, começo o trabalho com o Descanço.






A pá inerte.




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Repouso profundo




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Apenas descanço




O sebastianismo antenado

quarta-feira, setembro 09, 2009

Cometário Cretino

Li esse comentário no Idéias Cretinas a respeito das pesquisas de opinião sobre a queda de popularidade do presidente Lula. Resolvi escrever um comentário cretino porque... tava com vontade:

Bem. Margem de erro, intervalo de confiança, tudo bem. Mas senti dificuldade no entendimento de como a opinião vira estatística e vice-versa. Pense comigo... Se para verificar se uma sopa que minha mãe fez está boa sem precisar bebe-la toda, eu preciso um método amostral consistente que me leve a mexer bem a bendita (a sopa e não a minha mãe, convenhamos...) para evitar distorções na amostra (colherada que darei com sal devidamente distribuído na totalidade da sopa), por exemplo, imagine o que devo "mexer" quando a "amostra representativa" trata-se de uma opinião sobre algo? A sopa a gente até entende o porquê da mexidinha ser tão importante. Mas como é isso com gente humana assim, tão contraditória? A elegância corretiva da "margem de erro" e do "intervalo de confiança" traduzem bem o que de contraditório pode existir numa "opinião"? Fico tão escasquetado com essas coisas.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Morte de Nascimento do Passo

De Nascimento do Passo lembro de dois momentos: meu pai fazendo aulas de frevo com ele e uma visita que fiz à casa dele com Valéria Vicente.

Hoje vinha ouvindo a CBN no carro e soube de sua morte. Reproduzo aqui um e-mail desabafo de Valéria que penso ser também uma denúncia sobre o trato com nossos artitas.

Gostaria de dividir minha tristeza diante do falecimento do inventor da dança frevo, como conhecemos hoje. Nascimento do Passo foi o grande tradutor de uma dança extremamente subversiva criada no Recife no final do séc. XIX e início do século XX.


O frevo de rua, que de tão debochado ficava fora dos cordões dos clubes de frevo, até meados do séc. XX, foi disseminado através do trabalho pedagógico de Nascimento. Nascimento do Passo defendia o frevo como dança, como ginástica e como terapia. De fato, ao ser afastado da dança que praticamente ressuscitou, morreu. Primeiro afetivamente, depois três AVCs reduziram sua capacidade de movimento e fala. Agora, um câncer no estômago o levou. Antes, uma de suas ex-esposas conseguiu retirar cinqüenta por cento de sua pensão por “abandono de lar”.


Diante da morte:

A sensação de que poderíamos ter sido mais veementes na ajuda financeira e humana. A sensação de injustiça a um homem que deu tudo pela arte e que em troca foi condenado antes do julgamento.

A responsabilidade diante de seu legado.


É importante que se saiba: o Método Nascimento do Passo de ensino de frevo não é mais ensinado na Escola Municipal. A falta de uma política de registro e transmissão para a dança do frevo, respeitando as etapas históricas, suas aquisições e limitações de forma séria, nos coloca como partícipes de uma perda inestimável do nosso patrimônio imaterial. Atualmente, apenas o Grupo Guerreiros do Passo (http://guerreirosdopasso.blogspot.com) mantém o trabalho de transmissão desse método. Curiosamente,este grupo não conta com nenhum apoio público e este ano não desfilou com sua Troça, no carnaval, por falta de patrocínio.

Valéria

Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.