Mais Oxymore
Quase duas da madrugada. Estou em Paris e sem sono. Intraquilo com um mestrado impossível: o meu. Desgotoso de minha impaciência, imagino um cigarro. Tento acreditar que ele tem valor terapeutico. Um problema se revela: não fumo. Dificuldade pouco séria já que era nicotina imaginada, pouco real. Quase duas da madrugada e tento salvar em pensamento alguns contos chatos de Graciliano. Paulo Honório me vem à mente. Esqueço os contos. Acho que o grande mistério de Graciliano é o da concisão. A palavra foi feita para dizer, dizia ele numa espécie de falsa tautologia. Eu diria dele o que Bourdieu disse de outros: os escritores mais estranhos em aparência aos valores da arte pura a reconhecem de fato: verificamos isso apenas no ver suas maneiras sempre um pouco envergonhadas de a transgredir. Em obra do autor de Vidas Secas palavra não é enfeite, porém sem dúvida a contenir virou estilo, findou-se estética. Paradoxo. Nome de titulo de blog: oxymore!
Acho que já passam das duas. Amanhã cedo tenho um encontro com um amigo japonês. Faleremos sobre o trabalho dele. Coisa esquisita. Loucura própria à "sociologia" de Montpellier. Ele é orientado por Jean Marie Brhom: um professor impressionante e polêmico. Um erudito herdeiro de sequelas de mai 68. Bem, é assim que o vejo. O cara é também ele um "oxymore": reivindica o freudo-marxismo e é crítico da teoria crítica (isso me faz lembrar um texto do jovem Marx que li quando cheguei à Nancy intitulado Crítica crítica da filosofia crítica ). Funde fenomenologia e ruptura epistemológica de maneira esquisita, nunca entendi. Se reformulo imagino que o que entendo resultaria uma formula do tipo seguinte: defendo uma crítitica acritica da sociologia crítica. Ou seja: um oxymore!
Acho que já passa e muito das duas. Fico por aqui.
sexta-feira, março 05, 2004
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Quem sou eu (no blogue)
- Jampa
- Recife, Pernambuco, Brazil
- Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.
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