Coisas do amor (sentimentalismo livresco, entre outros)
A coisa mais irritante de um blogue é esse aspecto puramente autobiografico, egocêntrico, egoísta, "eu isso e eu aquilo", que na maioria das vezes parece inevitável na construção desses espaços virtuais do narcisismo mais vil e concreto de nosso tempo. Pode parecer inútil a busca desse distânciamento de si, desse esforço de objectivação de si, numa tetativa de mostrar que o importante é misturar uma miséria individual com outras, onde elas (as misérias) se transformam em fenômeno coletivo, se não social. Talvez não seja nunca vão relembrar,e vou fazê-lo sempre que possível, que quando escrevo em primeira pessoa, nesse eu teatralizado, não é de mim que falo, mas de um objeto, distanciado na mesura do possível no intento mesmo de não ser reduzida a minha existência recontada ao fardo dessa irreductibilidade, dessa unicidade tão única que proibe toda forma de troca simbólica.
E não foi por outra razão, falo do sentimento de antipatia para comigo mesmo ao atender a esse eunismo blogueiro, que li ontem de maneira um pouco compulsiva um livro de um sociólogo o qual não consigo esconder meu entusiasmo. Intitulado Esquisse pour une auto-analyse( Esboço para uma auto-análise), esse pequeno texto de pouco mais de cem páginas de Pierre Bourdieu, encheu minha fraca cultura de franca empatia, único sentimento possível para um estudante como eu diante de uma confissão tão sensível aos valores da ciência, da sociologia. Sem sentir-me mais inteligente ou capaz que outros, não pude não sentir uma emoção profunda ao ler as frases finais do livro: " Je n'ai jamais pensé que je commettais un acte d'arrogance sacrilège lorsque je posais, sans me prendre pour lui pour autant, comme tant de critiques inspirés, que Flaubert ou Manet était qulqu'un comme moi. Et rien ne me rendrait plus heureux que d'avoir réussi à faire que certains de mes lecteurs ou lectrices reconnaissent leurs expériences, leurs difficultés, leurs interrogations, leurs souffrances,etc., dans les miennes et qu'ils tirent de cette identification réaliste, qui est tout à fait à l'opposé d'une projection exaltée, des moyens de faire et de vivre un tout petit peu mieux ce qu'ils vivent et ce qu'ils font."( Eu nunca pensei cometer um ato de arrogância quando colocava, sem me colocar como ele, como tantos criticos inspirados, que Flaubert ou Manet era alguém como eu. E nada me faria mais feliz do que ter conseguido fazer que alguns de meus leitores ou leitoras reconhecendo suas experiencias, suas dificuldades, suas interogações, seus sofrimentos,etc., nas minhas, tirassem dessa identificação realista, que é exatamente o oposto de uma projeção exaltada, os meios para fazer e viver um pouco melhor o que vivem e o que fazem.)
Talvez pudesse dizer diante dessa minha juventude preguiçosa o quão o desejo do grande sociólogo francês parece próximo de meu desejo empacado(não vou divagar sobre as razões) de transformar-me num estudante aplicado.
Não sei da natureza das forças produtoras de minha lerdeza, porém ainda não desisti. Dentro desse percurso um pouco dolorido de construção de caminho, tento me inspirar desses textos condensadores da experiência alheia... Tento encontrar algo de mim lá dentro. Porém não de mim sozinho, isolado. Mas desse "eu" configurado na experiencia mesma do mundo, com outros tantos eus sigunlarmente comuns.
segunda-feira, abril 12, 2004
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Quem sou eu (no blogue)
- Jampa
- Recife, Pernambuco, Brazil
- Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.
Nenhum comentário:
Postar um comentário