Dialogando com Cesar: Walter, Nietszche sem paidéia
Plano:
Vamos(...), nesse nós retórico e polido, vamos começar pelo O Idiota da Família e a ilusão da biografia total. Mas iniciar o quê? Chamemos isso de conversa. Continuemos em seguida, com porquês comuns, com o problema da petulância como medida da verossimilhança do personagem. E, para por fim ao início da conversa, faremos considerações sobre os limites de nosso diálogo.
1- Dialogo solitário: o existêncialismo é um humanismo sem história
Jampa - Tendo como base as leituras de dois textos de Bourdieu (L'illusion biographique- A ilusão biográfica- e o próprio Les règles de l'art- As regras da arte), acredito que o autor propunha o seguinte: o limite de toda biografia é dado menos pelo fato dela proceder recrutando traços típicos de uma personalidade específica, e mais pela ambição (essa sim real detentora da ilusão biográfica) de reconstruir uma personalidade tal qual em sua totalidade, digamos assim, real e absoluta. De fato no O Idiota da Família Sartre tenta vislumbrar um Flaubert necessariamente Flaubert, esvaziando assim as determinantes socio-históricas da construção de um escritor que se fez, apesar dele, dentro de continuidades e descontinuidades próprias à definição(sociológicamente aceitável) de qualquer personalidade. Para centrar nosso debate proponho situar o necessário estrangular da história feito pelos existencialistas, em particular pelos dois autores citados: Sartre e Nietszche. Tanto um quanto outro preocupavam-se menos com processos socializadores(amores e desamores só podem forjar o homem na medida em que este internaliza e exterioriza de alguma forma elementos desse passado composto-amores e desamores- no presente da existência), e mais com os lampejos de liberdade inspirados por um Eu abstrato e escolhedor de destinos. Quando Nietszche pergunta como um homem se torna aquilo que ele é, ele quer saber menos da socialização(determinante e estrutural por natureza) e mais da vontade(liberadora e audaz em princípio), ele questiona, como Sartre, aquilo que o homem pode fazer com o aquilo que fizeram dele.
2- Walter é existencialista?
Jampa de novo - Colocando o problema nesses termos poderíamos então inferir as seguintes questões com relação ao autor do Diários de motocicleta: que tipo de reconstrução ele quis viabilizar e quais as maneiras de produzir o verossímil dessa ficção?; e, para critério de medida do esforço do autor, uma vez reconhecida a estratégia de reconstrução biográfica, que tipo de verossimilhança é cabida para produzir o efeito estético satisfatório?(Questões pra debate!)
Não creio que Walter tivesse em mente filmar a odicéia do habitus de Che. Por isso, atendo-me aos anseios pavorosos de nosso tempo de ontologia fenomenológica, creditei o verossímil ao personagem sem dúvida caricato do ''aprendiz de revolucionário'' com suas disposições inatas.
3- Limites
Mais uma vez Jampa -Não sei até que pontos essas "visões filosóficas" do mundo ajudam ou prejudicam o bom apreciar do filme. Nós dois gostamos. Porém, gostar explica pouco dos amores e desamores do nosso gosto. Acredito porém na consonância de certos aspectos de nossas opiniões que divergem em níveis diferentes da avaliação do filme. Apostaria nela(na consonância) caso a querela prossiga. Seria preciso situar essas divergencias em um nível específico do debate para que o dialogo se prolongue de maneira profícua.
Sem mais churumelas. Fico aqui.
4- Cesar ...(ou alguem que queira concordar comigo ou discordar de mim!)
sábado, julho 17, 2004
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Quem sou eu (no blogue)
- Jampa
- Recife, Pernambuco, Brazil
- Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.
Nenhum comentário:
Postar um comentário