sábado, maio 01, 2004

Acerto de contas e pequeno adeus do blogue

Dado é para mim um grande amigo. Exagerado como só ele, parece às vezes não medir a força das palavras. O engraçado é vê-lo diante de suas próprias hiperboles, vivenciando sempre a posteriori(depois de ter dito, claro!) as mais diversas e adversas situações de constragimento. Porém nem tudo nessa caracteristica dele é excessivo em excesso. Este acerto de contas é uma pequena tentativa de mostrar algo de bom de uma relação amical impestada de conflitos cômicos. Talvez seja mesmo uma forma de agradecer explicando as razões pelas quais as coisas não podiam ser de outra forma.

O segundo ponto deste post é um aviso. Um adeus provisório do blogue que ficará algumas semanas inativo.

Como diria Paulo Honório: Continuemos. Conheci Dado ainda no Marista e pela razão mais esquisita do mundo: o cara era a fim de minha namorada! Não liguei, nem tive raiva. Convencido de viver uma relação extremamente sólida, dizia-me: aquele gordinho playboizinho de Casa Forte não tem nenhuma chance. Soube inclusive das investidas dele, paquerando, tentando impressionar a gatinha, levei tudo na onda porque achava-o "gente fina", mesmo tendo uns quilinhos a mais. Até aqui tudo tranquilo. Egraçado foi o primeiro conflito. Ainda hoje não entendo a razão daquela agressão de Eduardo. Estavamos em Casa Amarela e eu estava completamente perdido entre o entusiasmo de começar algo novo e um vazio enorme deixado pelo fim de uma relação duradoura. Dado chega e diz umas brutalidades, afirma meu machismo, acusa-me de comedor de criancinhas, devorador da predação alheia. Não lembro se respondi de imediato àquelas palavras duras, acho mesmo que na minha confusão aceitei todas as acusações como sendo verdadeiras. Furei meus olhos. Parti para um exílio, uma caminhada a procura do lugar onde Edipos esquecem as suas Jocastas. Neste lugar distante do inferno terrestre, o exílio da alma como dizia Vitor Hugo, encontrei a paz para mim e meu amigo. Alguns meses depois conversamos, pedimo-nos desculpas e prosseguimos.
Uma outra marca é a contínua birra de Dado com a minha decisão de prosseguir meus estudos acadêmicos. Outro dia, cansado do meus devaneios diários, estava percorrendo os blogues indicados como links no "Sangue de Barata" e descobri o de Carlós. Nele vi um comentário de Eduardo dizendo o seguinte: "Queria ter sabido dizer isso sobre a necessidade que ser filho de quem somos causa. Eu já tentei falar sobre isso para Jampa (mas queria que ele tomasse para si a responsabilidade de ser melhor que o pai - que talvez seja demais até para Jesus). A vida é essa coisa mutante mesmo e resumos sobre o Todo servem só para encher o bolso dos que os vendem." Sempre entendi essa posição crítica dele sem concordar. Não segui a política por várias razões. Mas nunca vi de fato incongruência entre leituras mais ou menos acadêmicas do mundo e a tomada de postura política, prática, atuante e atual. Podemos e devemos, como diria e disse Marx, não confundir as coisas da lógica com a lógica das coisas. Isso sim seria e é motivo de deturpação da ordem das coisas(da lógica e do mundo). Estudando, imagino, tomo posição em favor de um tipo de postura pro liberdade possível, aquela que vincula consciência da impossibilidade de ser completamente livre com o esforço de entender os motivos desses limites para deles tentar se desfazer. Não acho por isso que a vida deva ser necessáriamente mediada por livros científicos ou filosóficos. Não acredito em Acrópoles ou utopias afins! A intriga do amigo foi e é bem recebida, pois é verdade a fragilidade do espirito humano diante do encanto de seu próprio engenho. E essa insistência do Amorim sempre me fez lembrar daquele algo básico que aprendi em família com as pessoas simples e pouco escolarizadas que me rodeavam: ao valor de uma vida não se tem mesura intelectual apropriada. A matemática prática de meu avô era tão importante nele, quanto as caretas que nos faziam tanto rir. As rezas de minha avó eram tanto expressão de sua fé, quanto seu amor estranho e maternal pelo marido doente era digno de um respeito crédulo. Dessas pessoas carrego em mim mais do que qualquer livro lido. Na falta delas aprendi a fazer o retorno ao início e pela saudade refletir os avanços e recuos das escolhas feitas. E é pensando neles e em outros que julgo importante entender o que eles não podiam e não puderam compreender. E dividir isso tudo parece ser a única forma de tonar essas crenças mais verdadeiras para mim. Pois do contrário, acredito, todo esse esforço para se tornar homem seria apenas mais uma luta vã e pequeno-burguesa para construir um lugar onde pudesse viver minha felicidade encantada com os frutos de minha própria inteligência(mesmo a conseiderando sem substancia, sinto-me capaz de seduzir-me pelo que ela é capaz de produzir). Findo, mesmo em certa tristeza, sempre agradecendo a Dado pela exageração de seus propósitos. Neles encontro alimento pra uma coerência limitada minha, porém cheia de sentido.
Para bem e para mal, acaba aqui o acerto de contas fraterno e carinhoso.

***

Aviso aos navegantes que nas próximas três semanas ou mais não haverá post neste blogue maldito. Razões: o mestrado. Um abraço a todos os amigos, um outro, um pouco diferente para os "inimigos"(Puchkin e companhia!).

Ps: Porra: Puchkin é muito mais violento no blogue de Carlós do que no meu.

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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.