segunda-feira, maio 26, 2008

Trecho da entrevista com Alfredo Cesar Melo



Como vocês que acompanham o blogue sabem, o que vou aqui dividir com vocês é parte de uma das entrevistas que vai servir de material empírico para um pequeno estudo sobre as maneiras de perceber a sociologia no CFCH, no departamento de sociologia. Decidi que não vou mostrar antes de terminadas todas as transcrições minhas opiniões e análises sociológicas. Maneira de ver o que as entrevistas dizem de maneira menos controlada, de refletir mais tranquilamente sobre o que se diz...


Escolhi alguns trechos para por conta do caráter de testemunho sobre a experiência escolar contido nele. Nele há informações sobre muitos de nós, que chegamos, quase todos, no universo das ciências sociais desconhecendo o que ele de fato pode nos oferecer, tanto no sentido de tipo de conhecimento que essas ciências caracterizam como no que se refere ao mercado de trabalho. Aqui, pessoalmente, com experiência oposta ao sucesso escolar de Cesar, percebo que o que ele diz pode ser lido, de alguma forma, como um testemunho que atesta a grande derrota que é nosso sistema escolar com esse sistema de vestibular tal como ele se apresentou para nós. Também mostra que outros obstáculos se apresentam para quem se aventura pela seara das ciências humanas. Vejamos.



Jampa – Eu queria voltar a essa relação entre você, sua família e a escola. Você lembra de algum momento onde existiam reações positivas ou negativas de seus pais com suas notas, seu processo de aprendizado?


Cesar – Sim. Sim. Sim [com ênfase]. Eu acho nesse sentido sim. Eu sempre fui bom aluno. Aluno cdf , aluno certinho. Daqueles que choravam quando tirava uma nota abaixo de sete. Né? Sempre fui muito aplicado. Nunca fiquei em recuperação. E meus pais sempre se orgulharam muito disso. E eu acho que isso era importante, né? Sobretudo numa época na infância em que você não está estudando porque você tem algum tipo de ambição, ou porque você quer ser alguém na vida, você está estudando sobretudo para agradar enfim as pessoas que lhe cercam, existe uma tentativa de conformidade às convenções sociais. Mas apesar disso, assim, eu nunca nunca gostei, da da, da minha experiência na escola, apesar de ser um bom aluno, eu nunca gostei muito da escola, como ela, como ela, sobretudo no ensino médio, eu sempre achei insuportável, a maneira como tinha que decorar as informações, como eu tinha que estudar muito mais matemática, química e física do que as matérias que eu gostava,que era ciência e filosofia ou... ciência, filosofia, matérias especulativas como história, né sociologia [com certa ênfase, talvez por ser eu o entrevistador] Isso tudo era absolutamente abafado no ensino médio, e e... nesse sentido eu sempre achei o ensino médio muito medíocre, e eu acho que gostava... eu cheguei às Ciências Sociais, apesar do ensino médio e não por causa do ensino médio. Não houve nenhum estimulo a que eu seguisse essa carreira, eu acho que não houve nenhum estimulo a especulação, a crítica, é, entende?, sempre um ensino médio voltado às carreiras de classe média, um ensino médio arrivista, voltado às carreiras de classe média, às carreiras de direito, administração, a conhecimentos técnicos que levem você a posições de ascensão social, e eu sempre, eu nunca me identifiquei com isso, apesar de ser um bom aluno... e de ter... inclusive, no vestibular de Ciências Sociais de 98, eu entrei com uma nota que podia ter entrado em Direito, que Direito e Ciências Sociais estavam no mesmo grupo, no grupo dois, e eu entrei com uma nota que podia ter entrado na faculdade de direito, o que realmente revoltou pessoas da família, etc. “como é que você abandona uma carreira promissora pra uma certeza de desemprego”, né? Então...

[...]

Jampa – [tem algumas perguntas que vou pular...] Por que Ciências Sociais (CS) na Federal (UFPE)?

Cesar — Assim, por que CS na UFPE?, como eu te disse, só pra complementar... eu não sabia exatamente o que estudar, então eu fiz vestibular de filosofia na Católica, é... CS na UFPE, e a Administração na FESPE, porque como eu não podia fazer economia na FESPE, ou... perdão, economia na Federal nem economia na FESPE, perai, economia na Católica nem economia na Federal, porque na Católica eu ia fazer Filosofia e na Federal Ciências Sociais, resolvi fazer administração que seria um curso que poderia me dar algum conhecimento nessa área, obviamente que era um engano completo, eu não fazia a menor idéia do que era um curso de administração, uma coisa insuportável pra mim, enfim... E, e... Filosofia, eu nem me lembro se eu fiz o vestibular, eu acho que não. Porque eu já tinha passado nas duas universidades, na Federal e na FESPE. Então eu acho que nem cheguei a fazer o vestibular de Filosofia. E ai fiz durante um ano as duas faculdades, que serviu como estratégia d´eu fazer.... em termos de política da boa vizinhança na classe média, né, de você não entrar cem por cento num curso de CS, você sempre dizia eu também tou fazendo um curso de administração que é um curso socialmente aceito, então foi uma maneira também de dar uma resposta para aquelas pessoas, né, que você precisa de certa forma tá numa profissão rentável, então eu sempre dizia tou fazendo CS que um curso que eu gosto mas também tou fazendo administração. Ai um ano depois do primeiro ano, no segundo ano, eu entrei no PET, que é o programa especial de treinamento de CS da UFPE, e ai isso me dava uma bolsa, de 240 reais que na época eram dois salários mínimos, era bastante dinheiro, e isso exigia dedicação exclusiva, então foi uma ótima desculpa para sair da faculdade de administração, tranquei a faculdade, e ai ingressei totalmente no curso de CS, agora dizendo que recebia uma bolsa, recebia dinheiro, então era uma maneira também de indicar minha seriedade nesse curso, entede as opções? Ficou claro?

Jampa - [...] Então pergunta é: houve encantos, deslumbramentos [na chegada à universidade]?


Cesar- sim, sim, sim. Porque como eu lhe disse, entrar na UFPE foi uma experiência absolutamente fundamental, uma experiência, assim, que me desasnou também. Nesse sentido como lhe falei eu tive um ensino médio muito reprimido, onde as grandes questões, toda minha curiosidade intelectual era reprimida, digamos assim, por um ensino médio idiotizador, marcador de X, né, chegar na universidade foi quase como chegar numa terra prometida, a muito tempo prometida, né? Eu me lembro o quanto eu me deslumbrei com a biblioteca da universidade federal, com a biblioteca central, com a biblioteca do CFCH, ver autores que eu só via no rodapé de artigos da F.de São Paulo, e poder conhecer esse mundo, né, foi um mundo, foi um encontro assim, foi um belíssimo encontro nesse sentido, né de..., eu aproveitei muito a biblioteca, todo aquele mundo enfim que eu esperava e que eu ansiava finalmente existia, e também eu acho que a grande diferença, é... o que faz a universidade ser não um repositório de livros e de cadeiras são as pessoas que estão lá, e essa é grande diferença que faz entre universidade federal e as outras faculdades ou faculdades no Recife, eu acho que foi um lugar de encontro também, um lugar de encontro que também mudaram minha vida, com pessoas muito interessantes, e que compartilhavam comigo desse ideal e dessa vontade de discutir, etc, então eu acho que foi uma experiência, o primeiro ano foi algo muito importante assim, o mundo que eu descobri e que eu me senti muito a vontade nele.
[to be continue?]
ps: O registro oral foi guardado por conta de seu interesse no tipo de análise que depois iremos fazer.
ps2: a publicação foi autorizada pelo entrevistado. :)

Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.