terça-feira, agosto 10, 2004

Diga ao João...

Ele passou batido. Pensava saber, não sabia.
Deixou de lado o mais importante. Pegou o caminho errado e bifurcou o entroncamento. Cara mais sem lógica.
Como dizia o mestre da malandragem dialética: ele definitivamente peidou na farofa de ovo. Comeu pão com gelo. E depois pediu penico vázio. Um verdadeiro vacuo local. Vá com ele, vá!
Diz pra ele deixar de ser pidão. Ou seja: diga ao infeliz para ele deixar de pedir grande e fazer a cotação do cumprimento aleatório do tatuado alheio.
Ele tem que parar de cantar. Voz triste. Pingueira. Goteira no mesmo penico vázio...
O cara é um desgraçado. Miserável. Só nanceu uma vez e veio daquele jeito. É de se ter pena.
Manda ele largar aquela geringonça a quem ele chama de mulher. Aquele troço é torta e tem uma perna morta e um braço seco que furou num prego e tem um olho cego e só tem uma mão. Acumulou defeitos na vida. O mais importante deles é o João.
Porém diga com calma que ele é um qualquer um. E quando ele perguntar quem foi o emissor, diga-lhe o meu codinome: chamo-me Fax Call 1-800 - help for assistance. Meu apelido é Jhon. Quando em perigo, deprecio os homens chamando-os de João. Por favor... Deixe-me um último pedido. Posso mandar um recado para o João... Juro, depois você pode atirar. Então.
Diga ao João...

quarta-feira, agosto 04, 2004

O que você vai ser quando crescer? Ou a inutilidade da infância.(Sem sociologia)


Ainda no segundo grau li um texto de um protestante chamado Rubem Alvez. Um livro de fábulas intitulado Estórias de quem gosta de ensinar. O autor, talvez pensando em Nietzsche, filósofo sempre citado por ele, quiçá imaginando uma ética pautada numa reflexão humanista do mundo, moralizava a pedagogia tentando dar à vida um sentido metafísico. A pergunta ''o que você vai ser quando crescer?'' engendrava uma constatação obvia aos olhos do fabulador: a inutilidade do que se é na infância. Uma vez que só se vem a ser quando se começa a produzir, a criança, não mais fim em si mesma, mas um meio para se conseguir produzir mais num futuro próximo, deixa de ter valor próprio para se constituir em quanto receptor passivo duma ética do por vir. Associada sempre a um futuro glorioso (geralmente futuros médicos ou advogados para citar os mais comuns), a criança vive o universo lúdico apenas como pano de fundo metodológico para inculcação dos valores de uma sociedade de produção.
Engraçado perceber que para um leitor avisado de filosofia tal argumento pode logo parecer um disparate. O ímpeto anti-metafísico do filósofo alemão é contrário à metafísica, diria tautológicamente. Porém, na época da leitura, por causa do entusiasmo, não tive dúvidas e pus-me a avaliar a pedagogia da escola a partir desse viés religioso, ponderar sobre minha, digamos assim, condição de estudante. E de fato, a filosofia nietszchiana ajuda a colocar alguns pontos sobre os is. A questão é básica: como atribuir valor a uma vida, ou a vida(humana)? Pelo trabalho? Pela beleza estética e física de uma pessoa? Pela média aritimética das diversas qualidades de um individuo? Por sua participação no MESC(movimento eu sou cultural)? No PT? Por ter estudado em Londres, Paris ou grandes centros afins? Qual a unidade de medida de uma existência? Nietzsche é desconcertante nesse sentido e redimensiona o debate. Ele pergunta em tom resignado: poderia o homem aceitar a vida se soubesse que ela é um eterno retornar ao mesmo? Poderia ele dizer sim ao mundo se soubesse da infinita reprodução de sua miséria? Nesse sentido, se bem aprecio a reflexão dele, o valor de um homem estária ligado a sua relação de força diante de sua própria condição. Mas onde estária aqui o valor de uma criança?

Metafísica de criança

Rubem Alves vê na metafísica da criança o super-homem à Nietzsche, ou melhor dizendo a super-criança. O dizer sim ao mundo infantil seria nesse sentido aceitar coisas com um valor em-si-para-si. A estória das duas crianças com destinos diferentes servia de exemplo disso. Nela ele imagina a relação de dois pais com seus respectivos filhos. O primeiro com um menino saudável. O segundo tinha um garoto leucêmico. Se para o pai cuja saúde do filho era impecável a pergunta o que você vai ser quando crescer parece inevitável, para o do menino com leucemia a vida da criança ganhava paradoxalmente um sentido imediato, ela valia em si mesma. Se um imagina futuros gloriosos, o outro tentava viver o presente, respirar a vida do menino, levá-lo ao parque e sorrir ao lado dele. Apesar do peso sentimetal e pouco empirico dos exemplos, guardei para mim um ensinamento: quem figura como ente parece não perdurar como ser na imaginação. Atribuir valor é sem dúvida brincar com a metafísica. Mesmo que a lógica social da taxonimia seja perversa, temos direito de tentar dizer ''sim'' apesar de todos os apesar de... Saudades de ler a Lipector.


Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.