sábado, novembro 12, 2005

Carta aberta para todas as mulheres fechadas :
Minha primeira vez : O Organon da minha virgindade


Oi Todas,


Tema difícil, sei. Minhas amigas sempre me falam do “quanto foi dolorido”, do “quanto os primeiros namorados são desajeitados mesmo se cuidadosos”, do “isso e aquilo”. Não. Comigo não foi assim. E penso ser necessário colocar alguns pontos sobre os is. Orgasmo feminino de primeira vez existe. Sou um caso e acho de utilidade pública expor esse tipo de verdade. Galileu disse que a dita cuja era filha do tempo e não da autoridade. Para as pessoas incultas, preciso: o filósofo falava da verdade e não a respeito da utilidade pública. Sou uma pessoa relativamente bem instruída. Por isso concordo com Galileu e afirmo: chegou o dia da verdade. Mas não fiquem pensando que faço isso porque as mulheres gostam de se mostrar diante das outras. Não é isso. Não sou assim. Acho apenas que é necessário mostrar para o mundo que felicidade com prazer é possível desde cedo. Por isso conto, foi assim:

Eu tinha quatorze anos e o nome dele era Carlos. Ele tinha dezoito e gostava de beijar minha boca chupando seu Halls extra forte. Sabor hortelã, claro! Quando as nossas línguas se desgrudavam, ele retinha um pouco do ar gelado na boca para sentir algum sofrimento, e depois, só depois, soltava um sopro suave e cheio de prazer. Eu amava aquele jeito masoquista dele.

Digo mais sobre o Carlos, sei que vocês estão curiosas. Ele era sempre muito cuidadoso e carinhoso comigo. Chamava-me de Béa, de Dengo, Nega (na verdade sou moreninha), de Preta. Eu o chamava de Carlinhos e/ou mãozinha. O que era um paradoxo, pois ele e a mão eram dignos dos aumentativos. Mas o que fazer se carinho requer diminutivos não condizentes com a realidade das coisas? Os seres humanos têm dessas coisas, não é?

Pois bem. Eu e ele estávamos, digamos assim, apaixonados. Todos os dias nós ficávamos horas e horas naquele sarrinho angustiante, aquele conhecido por todos os que “namoram em casa”. Ficávamos no quintal nos amassando e, sempre que ouvíamos algum barulho, o amasso parava e nos torturava...
Nossos corpos tão preenchidos de hormônios e curiosidades se contorciam em busca de um alívio, de um lugar para guardar o desejo. Eu adorava sentir o volume por baixo da calça dele aumentar e isso me excitava, eu ficava louca. Mas me controlava por causa daquilo que poderíamos chamar hoje de “risco pais”, ou seja, a probabilidade de ou meu pai ou minha mãe ou os dois nos dar um flagra. Era uma alegria ter esse medo saudável.

Mas um dia, cansei desse lenga-lenga medonho. Imaginei a mim mesma, talvez pela primeira vez na minha vida, sendo uma mulher decidida e totalmente autônoma. Foi nesse exato dia que cogitei: mas como existir sem transar com o Carlos aqui em casa? Trepar ou não trepar, eis a questão. Podem considerá-la como a primeira e mais importante cotação reflexiva de minha vida. Passei noites e noites em branco. Ficava a imaginar estratégias para dar uma resposta ao meu racionalismo que deduzia sem reduzir meu complexo desejo de experiência empírica. Não há lugares, coisas, palavras a dizer no ouvido que não houvessem passado por meu espírito, minha mente estava formalmente preparada para os tópicos da refutação da sofistica da virgindade. Terminava sempre por me masturbar. Prática que pode ser entendida como uma espécie de misto entre a abstração e o procedimento empírico muito próprio às práticas de validação científica. Com tanto rigor assim, eu gozava. E sempre. Nunca desconfiei do poder efetivo da técnica oriunda de ciência tão refinada.

Voltemos ao nosso assunto. Eu tinha tudo em mente então. Precisava apenas sistematizar os princípios de ação. Escolhi meu vestido. Tudo devia ser calculado. Qual a roupa mais adequada? O vestido. Sim, mas quais as justificativas dessa escolha metodológica? O vestido era a melhor opção porque vinha até meus joelhos. Nas condições empíricas que eram a de minha iniciação sexual, o tamanho da saia importou, pois evitou por antecipação minha, apreensão na família. Mas tudo isso era até então plano meramente formal e ainda em estado mental de realidade. Por indução verifiquei ainda que fosse vantajoso vesti-lo por mais uma razão; uma vez levantada a parte de baixo do vestido, eu era só nudez. E não vesti calcinha, está claro. Vocês já haviam inferido isso, não é? Lógica é algo bom por isso, a partir de alguns princípios podemos entender o resto. Como no sexo, o implícito induz até as últimas conseqüências o que vem a ser explicito. O vestido serviu, assim, para que Carlos entendesse pela ausência (da calcinha) meu desejo de presença (dele dentro de mim). Ele precisava da indução porque às vezes era tão bestinha do ponto de vista da formalidade das coisas. Bestinha, logo ele ficava sempre nos primeiros analíticos (estudos sobre os silogismos) e não conseguia passar para os segundos (as demonstrações).

Eis então que chegou o dia D.Chegada a hora da vinda de Carlos, e eu estava tão certa de mim mesma que sentia mesmo certa serenidade. Ele chegou, falou com meu pai na entrada da sala, como sempre fez. Cumprimentou minha mãe, beijou-a com doçura. Muito educado meu Carlos. Veio em minha direção, inocente, e beijou-me rotineiramente. Sim, era de hortelã, como de costume. Disse de minha beleza num olhar meio excitado. Um anjo meu Calos.

Fomos para o nosso quintal. No início do sarro pensei, é hoje ou nunca. Sou muito atrevida às vezes. Vocês já perceberam, não é?

Parei um pouco o exercício de esfregar e fui expiar através da janela. Os objetivos da expiada eram rastrear, localizar e identificar os inimigos. Meus pais estavam na sala.
A novela das oito era meu principal indício de presença da ameaça familiar nas proximidades. Se a novela acabasse, o risco de alguém chegar dobrava.
Eles assistiam à televisão, eu matava meu Carlinhos.
Mas voltemos. Deixem-me ir direto ao assunto.
Depois de olhar atentivamente o corpo musculoso de Carlos, peguei as mãos dele com mais força, olhei bem decidida bem dentro dos olhos dele. Sem desviar o olhar, colei as mãos dele contra o meu corpo e apertei, firmemente. Ah, aquelas mãos grandes e bem desenhadas do Carlos! Aqueles dedos longos! Eles sim, poderiam ser astros de filme pornô. Só de lembrar fico arrepiada. Mas vamos lá, estou ficando tão enrolada para contar essa história. Não me reconheço mais.
Mas então vamos, continuemos. Olhando nos olhos dele, fiz conduzir suas mãos até meus seios. Ele fez carinhos com os dedos apertando suavemente minhas tetas. O que era aquela agonia fina e espalhada que tomava conta de meu corpo? Tremi. Depois, contornando minhas ancas alcançou minhas nádegas. Transformara-se em um ser autômato e autônomo. Ele apertou forte a polpa da bunda, o que fez doer, mas eu gostei. Sussurrei no ouvido dele, “um pouco mais forte”, “belisca vai”. Ele estava enlouquecido. Eu completamente úmida embaixo. Sem pensar, abri o zipper da calça Lee dele. Começei a sentir aquele cheiro forte de sexo que tanto amo. Toquei no pênis: mácio, duro, quente, roliço. Esses atributos fazem parte da classificação geral dos órgãos genitais masculinos, mas descrevem de maneira peculiar o membro do meu tesouro. Carlos fechava os olhos como quem não acreditava.
“Vai ser ali”, eu disse para ele apontando para uma árvore enorme atrás de mim. Uma mangueira, nenhum tronco poderia ser mais confortável. Sussurrei mais uma vez para ele, “vai ser ali”. Logicamente, mas sem pensar muito, pus minha bunda contra o tronco da bendita árvore. Ele acariciava com os dedos meus grandes lábios e eu estava completamente doida. Aí saiu de minha boca ardente: enfia o dedo, enfia. Ele introduziu o indicador, lentamente. Senti meu ventre contrair. Senti um desejo ainda maior de ver aquele homem dentro de mim. Entreabri minhas pernas. Ele levantou meu vestido. Eu achava que iria transbordar, inundar o nosso quintal. Quando ele me penetrou, não senti nenhuma dor. Nem sequer sangrei. Acho que a marca do meu hímem era boa, Forum, Gup, algo assim... Senti aquele vai-e-vem gostoso. Nesse momento, como quem não aceita um marasmo qualquer, Carlos elouqueceu de vez. Deu uma tapa forte na minha bunda, e, no ritmo mesmo das penetrações, acariciava com os delos minha vagina. Eu tinha vondade de gritar. Contive, Deus sabe as forças que me fizeram calar. Mas sussurei: vai, vai Carlos, eu sou tua, acaba com minha virgindade, acabe comigo. Muito tempo depois li um livro de Freud onde ele falava de uma tal pulsão de morte, reconheci-me tanto alí. Bem, mas voltando. Ele enfiou, depois de ter umedecido os dedos na minha vagina, o anelar no meu anus. Sempre soube que essa história de dedo anelar tinha algo a ver com o cu. Eu sou uma mulher radical, quando perco alguma coisa, eu perco mesmo. Ou melhor, ganho. Porque perder o vulgarmente conhecido cabaço é ganhar uma vida mais feliz e cheia de prazer. Mas não me deixe fugir do assunto. O fato é que naquele momento senti meu primeiro orgasmo. Meus musculos anais e vaginais latejavam sem arder, até chorei de emoção.
Depois desse dia Carlos e eu transamos todos os dias e de muitas formas diferentes. Nunca fui chegada à monotonia. Para mim ele foi uma boa escola de iniciação. Ele foi bom até eu conhecer o Evaristo. Homem maior e mais preparado tecnicamente. Troquei. Desde que me entendo por Beatriz, sou dada. Depois conto sobre o Evaristo.
Como disse, espero que essas minhas confissões sejam úteis para as mulheres felizes e infelizes. Mais para as infelizes, estas deviam e vão descobrir comigo o prazer que é gostar de gozo. Os homens? Não me importo com o que eles pensam de mim, apenas gosto do que eles fazem de mim. Uma mulher.

Até mais,

Beijinhos,

Béa.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Resumai Estrepitococus Est

Cansado do blogue decidi mudar o estilo: estilei. A pergunta será sempre a mesma... Só muda de estilo quem tem um, você acha realmente que...

Blogueado estou. E por isso transcrevo para os meus parcos leitores ocasionais dos meus textos ocasionalmente postados o resumo da apresentação de uma parte do meu trabalho de mestrado:

Título :Analise disposicionalista de São Bernardo: esboço de um estudo sobre a sociologia implícita na obra de Graciliano Ramos
Autor: João Paulo Lima e Silva Filho
Orientado por: Norbert Bandier e Bernard Lahire para obtenção do mestrado em sociologia.


Existe uma tensão no trato das disciplinas sociologia e literatura de mesma ordem daquela distinguindo virtudes filosóficas de racionalidade sistemática. Sociologia e Literatura são geralmente opostas entre si pelas diferenças existentes entre seus respectivos métodos de construção. A literatura estando de certa maneira livre das exigências metodológicas de representatividade estatística, das demonstrações teórico-metodológicas com a produção e análise dos dados empíricos próprios ao trabalho científico. Daí estimando-se, pela oposição, do valor científico de uma em detrimento da outra. E desse fato produz-se um discurso, quase sempre tautológico, sobre uma ciência científica diante de uma literatura literária. Competição injusta e esquemática mostrando uma oposição entre o belo e o técnico, entre o utilitarismo científico e a gratuidade da arte, quando seria oportuno e mais apropriado analisar a tensão mesma, entendida e tida como resultado de um processo socio-histórico específico, como objeto sociológico em si, de maneira a propor uma sociologia implícita de uma produção literária específica, a do romance de cunho social.
No Brasil, país no qual uma tradição literária ocupou um espaço importante na produção de “leituras da realidade social”, tal exercício pode trazer bons resultados heurísticos para a sociologia.

Propõe-se aqui expor uma reflexão sobre um estudo de caso. Uma análise de um romance de Graciliano Ramos cujo mérito pretendido está na tentativa de captar a partir da análise das relações históricas de tensão entre sociologia e literatura, o interesse sociológico de se fazer um trabalho em termos de uma sociologia implícita do escritor e de sua obra. Serão discutidas questões como a da pertinência da homologia estrutural postulada na maioria dos trabalhos de sociologia do romance e as maneiras de se pensar a utilidade da “instrumentalização sociológica” do romance social como também de se pensar o escritor como um “quase sociólogo”.
A apresentação será no CFCH. O propósito é não ficar parado. A data precisa, ainda não sei. Mas o encontro de ciências sociais é do 8 ao 11 de novembro.
That´s all falks!
Jampa.

Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.