quinta-feira, julho 22, 2010

Viva e deixe morrer

A tese acabou. O que não acabou foi o que a pesquisa quis encontrar. Graciliano Ramos, um dos maiores escritores brasileiros do século passado, continua sendo uma incógnita sociológica em muitos sentidos para mim. O que é bom, porque trabalho não me faltará...

Quatro anos não dá tempo suficiente para reter o necessário para uma sociologia da literatura minimamente consistente. Isso é ainda mais verdadeiro quando falamos de um trabalho solitário, individual, como é o da feitura de uma tese doutoral. Um esforço coletivo seria muito mais proveitoso, tenho certeza. Talvez fosse mais difícil em muitos sentidos, mas é mais rentável nos resultados, porque a qualidade de aperfeiçoamento do texto é dada por meio da censura coletiva das falhas encontradas, o que minimiza os erros e dá robustez aos acertos. É sonho meu meu ver trabalhos individuais em desenvolvimento na universidade um dia serem balizados por um esforço crítico coletivo, em que os colegas de trabalho intelectual, pautados em critérios específicos de qualidade argumentativa (sociológicos de preferência), julguem coletivamente as falhas de procedimentos analíticos das pesquisas em andamento visando, com isso, um resultado final de excelência.

Tive alguns méritos na feitura da tese que agora passo a reconhecer. O maior deles, talvez, aventuro-me a dizer, é que fui sociólogo da literatura no sentido próprio que se pode dar ao termo. Tentei ao máximo não ter medo das etiquetas que servem de munição aos que querem ver a sociologia longe dos objetos artísticos: "redutor", "frio", "positivista", "empiricista" etc.
Fui tudo isso em um meio que a sociologia da literatura se confunde com tantas outras coisas anti-sociológicas: textocentrismo analítico, leitura atemporal (sincrônica) dos textos literários, elogio da genialidade e da precocidade do artista etc. Nesse contexto, o esforço para encontrar tratamento sociologicamente apropriado à literatura tem ainda grande valor, mesmo que seja apenas o de lembrar a importância da historicidade, porque todas as coisas que digo são mais do que sabidas, mas por lógicas também a serem reveladas pela sociologia, precisam sempre ser relembradas.

Graciliano Ramos, escritor famoso, conhecido, lido e relido. Graciliano Ramos, desconhecido. Eis duas constatações que não se excluem na medida em que percebemos que as informações retidas sobre a obra e o autor serviram durante muito tempo para ocultar as lógicas que o levaram a ser o que era para nós hoje, depois de tantos anos de sua morte. Lógicas que são tão mais difíceis de se indentificar quão mais fortes são os impedimentos tácitos que ofuscam o problema do processo social de legitimação de sua obra. Por em evidência o processo de legitimação social de uma obra dá medo, porque todos nós consideramos, em certa medida, que um autor é grande quando sua obra "foge" aos condicionamentos sociais, quando ela, em uma palavra, "transcende" o mundo social e se revela em plena autonomia. Mostrar o suporte dessa crença foi parte da tarefa ardua que me impus para realizar o trabalho de tese e que, em parte, acredito ter atingido a contento com resultado crítico alcançado.

Devo admitir que trabalhar a sociologia da literatura a partir de um aparato teórico de uma sociologia crítica dos intelectuais é coisa muito tensa. Muitas vezes me vi em uma situação delicada de estar me sentindo um verdadeiro traidor da própria classe, da "grande família dos intelectuais". Mostrar que as lógicas do mundo social não operam apenas para os "outros", mas também "explicam" os que "trabalham para explicar o mundo social" é uma maneira de inquirir de maneira mais radical sobre os limites e alcances da reflexão sociológica. Foi também acreditando nisso que fiz meu trabalho.

Minha tese não tem um interesse amplo. Por isso, o público que talvez tenha mais interesse nela é muito específico. Talvez críticos literários, quiça os admiradores da obra do Velho Graça. Bem... Fica a certeza de mais um ciclo que se passa e da chegada de outros, espero que tão ou mais desafiadores quanto esse.

quarta-feira, julho 21, 2010

A volta do blogue

O blogue passou um bom tempo dormindo. Hibernou para que eu pudesse dar conta da tese. Agora ele volta. Talvez para que eu possa dar conta de um monte de coisas prometidas por aqui e não realizadas, como a série sobre os cemitérios, por exemplo.

A gente se vê por aqui.

Jampa.

Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.