terça-feira, maio 18, 2004

Tradução de Introdução(enviada por Ton)

A tradução não está perfeita. Longe disso. Acho que Ton deve ter colocado meu texto num tradutor automático desses da vida. Corrigi os erros mais grosseiros. Perde-se em estilo, mas também um pouco de sentido. A palavra "demarche", por exemplo, deve ser substituida por um grupo de palavras que designe as maneiras de fazer algo especificamente. "Demarche" é a maneira pela qual se usa um método. E a tradução disso é dificil. Mas vou postar a mando de Ton. Assim democratizo mais as minhas lezeiras.

Introdução

Nietzsche, num texto sobre os filósofos pré-socraticos, tentou transformar aquilo que é considerado como um defeito (a ausência de demonstração) numa qualidade.Analisando a frase emblemática de Tales de Mileto "tudo é água", observou que a virtude do primeiro filósofo ocidental era ter encontrado a boa pergunta (que é que tudo é?), sem passar por todas as exigências de verificação empírica. É a intuição que existe uma tensão desta ordem entre a literatura e a Sociologia que conduziu-nos a escrever esta dissertação.

Recordamo-nos igualmente os pensamentos de Nietzsche, de acordo com o qual o homem criou a arte para poder suportar a realidade, e Weber, quem dizia ter escolhido a ciência a fim de verificar até onde poderia suportar esta realidade. Daí um paralelo nos apareceu entre estas duas disciplinas freqüentemente opostas devido às suas diferentes formas de abordagem, a literatura mais livre, ou seja, liberada das exigências metodológicas de representatividade, das demonstrações teóricas e da produções de dados empíricos próprias às ciências.Assim se deu em nós a idéia de um estudo que põe em relação Sociologia e literatura.

Desejávamos, além disso, estudar um autor brasileiro e a nossa escolha levou-se rapidamente sobre Graciliano Ramos, este por várias razões que desenvolveremos na nossa parte consacrada à metodologia. Digamos apenas aqui que é um dos maiores escritores brasileiros século XX e que tem uma maneira específica de criar baseada numa observação meticulosa da sociedade, que reproduz nos seus romances, conferindo a estes um interesse sociológico certo. No entanto, como veremos, é no seu caráter propriamente literário que os seus romances são produtores de uma leitura sociológica da realidade da época. É o que qualificaremos de "reciprocidade explicativa". Toda nosso esforço
visará demonstrar como esta reciprocidade nasce da tensão que existe entre literatura e Sociologia.

A fim de levar a efeito esta investigação, começaremos por mostrar como, na história da Sociologia, surgiu e em seguida se desenvolveu a idéia de uma análise sociológica da literatura. De Comte a Pierre Bourdieu, passando por Durkheim e Wolf Lepenies, o nosso trabalho será destacar a forma como a Sociologia reconheceu gradualmente elementos literários como utilizáveis no âmbito de uma maneira sociológica.

Em seguida explicaremos as posturas metodológicas que adotamos para este estudo. Justificaremos principalmente o cruzamento das nossas referências teóricas (Pierre Bourdieu e Bernard Lahire principalmente), e orientaremos a confrontação da teoria com o objeto, quem é a fonte da construção da nossa problemática.
Por último, analisaremos o romance São Bernardo de Graciliano Ramos a fim de mostrar como funciona nesta livro a reciprocidade explicativa entre literatura e Sociologia. A análise dispositionnalista desenvolvida por Bernard Lahire nos permite mostrar como a verossimilhança literária deste livro nasce da compreensão da sua verossimilhança sociológica.

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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.