terça-feira, outubro 26, 2004

Por uma pedagogia da punheta


Daniel Capeta tinha um ar acadêmico quando ensinava algo. E desse fato provinha a grande eficácia de sua didática. Era um construtivista nato. Tudo nele inspirava uma vocaçao ao ensino: a maneira de falar da imaginaçao, de exemplificá-la; também a forma direta e objetiva de enquadrar o sujeito, sempre objeto de análise acurada, profunda. O método, de tao crítico às rupturas epistemológicas, poderia mesmo ser visto como uma nova poética do movimento didático, uma fenomenologia do ir e vir contínuo no ensino de uma prática. Na verdade, ele foi responsavel por uma nova prática da imaginaçao estruturada a partir da experiência pedagógica em si, com o sujeito recriando o objeto, modelando-o com vigor na luta pelo irresistível.

A maneira dele de ilustrar ilustrando tornava-o uma figura notável entre as crianças daquele lugar. Naqule mundo devastado por um vázio de sentido existêncial, garotos de 10 e 13 anos pareciam estuperfeitos com a sensaçao lúdica da nova cinemática. Para os moleques era poesia aquela ciência dos movimentos tao simples, tao natural (na) mente, nas maos: uma ciência técnica, sem dúvidas. Tal saber teve certamente um futuro durável e glorioso, e, sendo de fácil democratizaçao, gerou prazer curto a uma grande maioria de individuos com vida, muitas vezes, mais que efêmera.

Eh com muito prazer que reproduzimos aqui um dos seus únicos cursos transcrito aqui de maneira muito precária, mas, eperamos, a mais fiél possível a um empreendimento intelectual dessa ordem.

Curso I (Tema: ensinamento do amor, antes do sexo.)

Comentário póstumo do professor ou resumo imaginado(Por Daniel Capeta):
Como os do Socrates de Platao, meus ensinamentos sao fruto de uma prática pedagógica específica. Cada aula, um dialogo. Cada debate, um recriar do mundo. Porém, diferentemente do pensador grego, minhas idéias, apesar de bem difundidas, ainda nao fazem parte do patrimônio universal da cultura humana. Nao sei por qual razao, pois morto também estou. E era até bonito antes das balas perfurarem meu rosto. Espero que gostem do curso apresentado em forma de diálogo pouco platônico.

Aula do curso de didática popular infatil e aplicada. Ministrada por Daniel Capeta (Anos 80, em algum suburbio recifense.)

Um guri chega para mim e diz:
-Ei Capeta. A galera me disse véio, tá ligado? Diz pra mim também, vai lá véio! Diz aí, pô! Eu tou ligado que você já comeu uma nega uma vez. Porra. Conta aí! E aí, faz o que isso? Dá o que na hora?

Penso que todo educador deve ser ao mesmo tempo pragmático e teórico. Deve respeitar as dúvidas mais do que naturais de seus pupilos e encará-las com naturalidade. Porém, para impor um certo respeito e garantir um certo distânciamento próprio à profissao de educador, ele deve colocar o aprendiz no seu devido lugar. Por isso, respondi:
-Primeiro tu tens que encontrar uma nega. Tens uma buceta, um rabo? Nao tens. Entao pronto.

Triste, num primeiro momento sem esperanças, o aprendiz agoniza palavras resignadas:
-Tem jeito nao. Tou fodido entao. Como vou enrabar alguém? Nenhuma nega me quer, sou muito guri. Nao tenho nem bilola, só pitoca.

Depois de ter estimulado o desejo mais profundo de aprender, é que é preciso jogar com o lado mais empírico e trazer o ensinamento para o campo do possível. Entao, refletindo sobre a idade do garoto, e claro, convencido de que ele já entendeu quem ele é em relaçao a mim, sugeri em tom epicureo:

-Ei. Vai com calma que pinto novo tem mais é que exercitar a pinta. Comece batendo uma punheta, pixoto.

Surpreso. O puto(em sentido português!) perguntou:

- Que porra é isso?

Nesse momento um tom altivo é necessário. Nao é preciso voltar à autoridade antiga na qual o professor mantinha o poder pela posiçao específica a qual ocupava. Eh preferível se impor pelo nível esmagador de uma retórica fundada na argumentaçao baseada na sólida e indestrutível aliança entre análise racional e conteúdo empírico. Respondi assim, exemplificando. Sou um ciêntista.

- A coisa nao é difícil. Pega a pica com a mao. Assim. Cospe na cabeça. Você deixa a bicha ficar molhada. E aí tem que ter imaginaçao. Pensar, por exemplo, na Lidiane. Sim. Aquela gostosinha lá da sua rua. Nas pernas roliças dela. No "short" apertadinho fazendo aparecer as marcas da calcinha rendada. Aquela bunda redonda, carnuda, musculosa. E continua a balançar. Assim porra!. E você deve balaçar mais ligeiro. Sim. Quanto mais rápido é o vai-e-vem mais a imaginaçao mistura as partes do corpo dela e o que podemos fazer com elas. Chupar, arreganhar cada buraco. E se sentir ressecar, cospe novamente.

Depois de parar e pensar um pouco no que havia explicado, decidi ampliar minha proposta pedagógica aumentando o conteúdo progamático do ensinamento. Decidi sistematizar minhas opinioes sobre a teoria do cuspe num objeto mais complexo e continuei.(O garoto escutava atentamente.)

- Quando for com uma ninfeta nao faz a mesma coisa nao. Eh parecido, mas nao é igual. Onde eu estava antes? Ah sim, "imaginar". Sim. Antes disso estava no cuspe. Entao. Na hora da cuspida é para cuspir,mas nao cospe mais na rola nao. Primeiro, para mostrar para ela que você é entendido, abre as penas da nega e coloca a mao na buceta dela. Se estiver molhada, você bota pra fuder. Se nao, cospe na mao e coloque a saliva na priquita dela. Depois, só depois, é que você mete o pau. Entendeu?

- Capeta. Tu és fuderoso mesmo.


- Nada, depois você precisa aprender outras coisas.

Com essas palavras, terminei a conversa em acordo com um princípio de modéstia intelectual exigido. Mas pensei ainda em acrescentar uma idéia. Uma lei que desvendei e a qual me deu a reputaçao de cientista e pedagogo. Cientista pelo enunciado. Pedagogo pelo estudo da forma, pelo empreendimento de um aprendizado mais adequado. A lei encontrada por mim? O cu é sempre mais dificil, mas nao é impossível nao. Foi com essa lei que me formei. Transformei-me em homem de ciência. Se me pergunta como fiz para daí passar para pedagogia, diria com ar cínico: vira o cu, palhaço.

Autocrítica de professor.


Nesse dialogo com o guri alguns aspectos falhos de minha prática pedagógica me paracem evidentes. O mais importante deles foi meu pouco tato na hora de aplicar minha tática semi-diretiva de dialogar. Por isso é possível notar uma certa induçao de minha parte ao dizer o que digo querendo ouvir o que quero para assim responder o que bem quis. Nesse sentido continuo tentando induzir, pois, enuciando meu erros possíveis, tendo, de certa forma, a nao querer aceitar outros, talvez encontrados por leitores mais atentos. Atentemos aqui, todos juntos, para o fato de que, em pedagogia, pelo simples fato da centralidade da questao didática, metodológica, o conteúdo perde toda a importância. O que é crucial é que o garoto aprendeu por meios eficazes e (demostradamente mais eficientes)a sua proveitosa punheta...


Ps: Como o autor é tal qual um pré-socratico morreu sem escritos. O dialogo é entao fruto de uma doxografia imprecisa e moderna, oriunda de um disse me disse, de um ouvir daqui escrever alí.

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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.