ET CETERAS
Por que sinto dor e intraqüilidade a cada texto escrito por mim? Por que insisto em continuar com esse blogue e com o sofrimento de me ver exposto a cada linha, erro, opinião ou postura por mim tomada?Por que tudo se passa como se eu estivesse lutando contra algo dentro de mim, algo latente e pulsante, mistura de certeza de impotência contra forças sociais superiores e sentimento de culpa pela fraca persistência do meu espírito? E se o elemento da impotência é verdadeiro, como é que tais forças vindas da minha origem social agem de maneira tão forte e organizam as formas de me aceitar? A cada tentativa minha de expressar algo pela escrita, pelo jargão sociológico, por formas estranhamente incorporadas no contato prolongado com a disciplina, tudo parece resultado de outro que não eu. Por quê?
Outro dia estava lendo The uses of literacy de Richard Hogart. Esse livro parece dar pistas intrigantes a respeito das resistências sinistras de um "popular" ao conhecimento mais formal. O termo "literacy" que designa propriamente o fato de se saber ler e escrever tem um sentido mais técnico e preciso que o nosso "cultura"(Os anglofones por favor me corrijam se estiver errado). O título sugere um certo desabuso com a questão do uso feito pelas classes populares da alfabetização recebida, como se a questão posta se traduzisse assim: "ensinamo-lhes a ler e a escrever e vejam o que eles fazem-, ou olhem aquilo que a mídia faz-lhes fazer-, desse instrumento de liberação." Mas as análises do livro, as que pude ler até aqui, tentam criticar as imagens intelectuais da chamada " degradação da cultura auteticamente popular". E é nessa tensão onde me reconheço bem e dela penso fazer parte integrante. O autor se esforça de utilizar as ambigüidades entre os tipos de cultura como maneira de contornar o ponto ideológico da questão. Mas para mim, mais analisado que analista, é a impossibilidade de escolher entre uma cultura e outra, entre um valor e outro, é essa impotência vivida enquanto processo de aculturação que é constrangedora.
E se digo essas coisas é porque elas fazem parte do meu dia a dia aqui com vocês. Para meu trabalho nem tanto. Pois escrevo em francês e numa língua estrageira meu sentimento de inconforto é paradoxalmente menor. O blogue virou assim meu espelho de classe. Ele reflete minhas inseguraças e minhas certezas demesuradas. As duas são produtos de um mesmo processo de esforço demasiado de aceitação e rejeição de meios sociais específicos. De um lado, uma vontade importante de se apropriar de ferramentas intelectuais próprias ao meio acadêmico, quase sempre elitista. De outro, um sentimento de impropiedade e de negação daquilo que vai sendo incorporado.
Ao comentar o blogue de Cesar ontém todo o peso desse percurso escolhido me veio a mente. Como não estou conseguindo progredir na minha tese, que de tese só tem até agora o nome, venho aqui reclamar de minhas próprias tolices. Vou morrer vendo meus erros de ortografia e com vergonhas deles. Acho que minha birra com o "eunismo" dos blogues vem também dessa tensão evocada acima. Termino me contradizendo, ecrevo aqui em primeira pessoa.
Abraço a todos,
Jampa.
quinta-feira, abril 21, 2005
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Quem sou eu (no blogue)
- Jampa
- Recife, Pernambuco, Brazil
- Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.
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