quinta-feira, abril 21, 2005

ET CETERAS


Por que sinto dor e intraqüilidade a cada texto escrito por mim? Por que insisto em continuar com esse blogue e com o sofrimento de me ver exposto a cada linha, erro, opinião ou postura por mim tomada?Por que tudo se passa como se eu estivesse lutando contra algo dentro de mim, algo latente e pulsante, mistura de certeza de impotência contra forças sociais superiores e sentimento de culpa pela fraca persistência do meu espírito? E se o elemento da impotência é verdadeiro, como é que tais forças vindas da minha origem social agem de maneira tão forte e organizam as formas de me aceitar? A cada tentativa minha de expressar algo pela escrita, pelo jargão sociológico, por formas estranhamente incorporadas no contato prolongado com a disciplina, tudo parece resultado de outro que não eu. Por quê?

Outro dia estava lendo The uses of literacy de Richard Hogart. Esse livro parece dar pistas intrigantes a respeito das resistências sinistras de um "popular" ao conhecimento mais formal. O termo "literacy" que designa propriamente o fato de se saber ler e escrever tem um sentido mais técnico e preciso que o nosso "cultura"(Os anglofones por favor me corrijam se estiver errado). O título sugere um certo desabuso com a questão do uso feito pelas classes populares da alfabetização recebida, como se a questão posta se traduzisse assim: "ensinamo-lhes a ler e a escrever e vejam o que eles fazem-, ou olhem aquilo que a mídia faz-lhes fazer-, desse instrumento de liberação." Mas as análises do livro, as que pude ler até aqui, tentam criticar as imagens intelectuais da chamada " degradação da cultura auteticamente popular". E é nessa tensão onde me reconheço bem e dela penso fazer parte integrante. O autor se esforça de utilizar as ambigüidades entre os tipos de cultura como maneira de contornar o ponto ideológico da questão. Mas para mim, mais analisado que analista, é a impossibilidade de escolher entre uma cultura e outra, entre um valor e outro, é essa impotência vivida enquanto processo de aculturação que é constrangedora.

E se digo essas coisas é porque elas fazem parte do meu dia a dia aqui com vocês. Para meu trabalho nem tanto. Pois escrevo em francês e numa língua estrageira meu sentimento de inconforto é paradoxalmente menor. O blogue virou assim meu espelho de classe. Ele reflete minhas inseguraças e minhas certezas demesuradas. As duas são produtos de um mesmo processo de esforço demasiado de aceitação e rejeição de meios sociais específicos. De um lado, uma vontade importante de se apropriar de ferramentas intelectuais próprias ao meio acadêmico, quase sempre elitista. De outro, um sentimento de impropiedade e de negação daquilo que vai sendo incorporado.

Ao comentar o blogue de Cesar ontém todo o peso desse percurso escolhido me veio a mente. Como não estou conseguindo progredir na minha tese, que de tese só tem até agora o nome, venho aqui reclamar de minhas próprias tolices. Vou morrer vendo meus erros de ortografia e com vergonhas deles. Acho que minha birra com o "eunismo" dos blogues vem também dessa tensão evocada acima. Termino me contradizendo, ecrevo aqui em primeira pessoa.

Abraço a todos,

Jampa.

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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.