quarta-feira, junho 18, 2008




Sem Zapping do Domingão


No domingo passado vi ao mesmo tempo estarrecido e emocionado a apresentação da Orquestra Criança Cidadã do Recife no Domingão do Faustão. Quem não se emocionaria com crianças crescidas na miséria que mostram talento e superação ao aprenderem técnicas musicais da música erudita? Talvez minha segunda pergunta não seja tão apelativa e melodramática quanto a primeira, mas preciso fazê-la. Sinto-me impelido, mesmo sabendo correr o risco de ser chamado de aliado de bandidos. Quem não achou absurdo e sem sentido a comparação entre o investimento nas crianças e nos presos, feita pelo maestro Cussy de Almeida? Para quem não viu recordo: “Em Pernambuco, um preso custa aos cofres públicos algo em torno dos R$ 2,5 mil. Sem falar que ressocializar esses detentos é difícil. Por menos da metade conseguimos mudar e dar um direcionamento positivo a essas crianças” (aqui). Achei revoltoso. E, para meu desespero, não encontrei reações a isso. Pensei: claro, quem vai criticar no Brasil alguém que está dando oportunidades a criancinhas miseráveis, mesmo que essas oportunidades sejam dadas em nome de um discurso violento contra pessoas que estão cumprindo pena e que, segundo ele, não valem o dinheiro gasto pelo governo porque “é difícil ressocializar esses detentos”. O que ele sugere: a pena de morte? Tirar o dinheiro gasto nos presídios para se colocar em projetos sociais?

Há quem possa ter interpretado de outra forma o tal discurso. Será que a intenção dele não é só mostrar como é inteligente o governo investir em programas como o dele (de arte ou esporte) para crianças, que têm um custo relativamente baixo, evitando um custo com eventuais “futuros” detentos? Acho que se deve aprender que de boa intenção o inferno está cheio. O teor do que foi dito estava lá: por que gastar dinheiro com “casos perdidos” se podemos ainda apostar nas crianças que, por não estarem ainda totalmente socializadas no esmo da realidade social, custariam menos para aprender Mozart, Vivaldi e não se tornarem com isso vilões sociais? O que para mim demonstra das duas, no mínimo uma: ou pura demagogia, ou desapego aos problemas concretos do nosso sistema penitenciário e às pessoas humanas que estão submetidas (justas ou injustamente) a ele.
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L´ Ensemble Meloinious: Bandolins Franceses


Fui assistir ontem à noite (17 de Junho) no Teatro Santa Isabel esse quarteto de bandolinistas franceses que muito me agradou. Tocando um repertório diversificado (Kink Kong de F. Zappa, Ainda me Recordo de Pixinguina, Suite Provençale de D. Milhaud entre outros), o conjunto de bandolins tocava arranjos muito criativos e bem humorados misturando de forma muito criativa o erudito com o popular. “ Nossa banda tenta tocar o erudito de forma popular e o inverso é também verdade” dizia um dos músicos durante a apresentação num português quase impecável. Valeu mesmo. Eles de fato mostraram ter uma idéia de “identidade bem elástica” como bem indicou a versatilidade com que os bandolins foram utilizados para tocar do Jazz ao Clássico, do Rock ao Chorinho brasileiro. De Istambul ao Rio de Janeiro, sim, “c´est très elastiques cette notion d´ identité”. Merci au Ensemble Melonious... Que em época de Sarkozis da vida nos lembra com “imaginário delicado e virtuoso” que a França também é terra de uma tênue mistura de ordem com liberdade!
PS: Obrigado Tigrão pela contribuição no nosso papo via MSN.
PS2: No A volta dos que não foram você encontra um interessante texto sobre o Soletrando no programa do Huck.
PS3: O presidente Lula tem mesma opinião que o maestro Cussy. Valeu pela dica Cesar.

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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.