quarta-feira, março 11, 2009

À Santa Morte de um bisbo: louvemos

Hoje pedi excomunhão por e-mail ( Via: Lula). Coisas da nova era. Foi minha primeira

vez. E a primeira vez a gente nunca esquece, não é seu padre?

Ora bolas, não creio em Deus e nutro certo desgosto pela Igreja Católica. Mas tendo a tentar ser tolerante com os principios defendidos pela Igreja. Eu tento, juro.


O contraponto do meu ateismo é meu respeito laico pela crença católica de meus familiares. Sempre transijo : preciso conviver pacificamente com dizeres racistas, com posturas anacrônicas, homofobicas, preconceituosas (que tem sua lógica na razão conservadora da Igreja) e não destruir laços e vínculos afetivos importantes para mim. Eis minha postura quando penso no que vivi com meus avós, por exemplo. Mas não, dessa vez não dá para respeitar. E me digo: ainda bem que meus avós já morreram e esse conflito vai ser evitado, que outro Deus os tenha.

O problema é que tenho aquela gostosa descrença provinda de realmente não saber, sabem? Então é fácil. Formado em sociologia, vejo-me descontente com a arrogancia insuperável da metafísica, tenho horror das palavrar fixadoras de essências improvadas e, provavelmente, improvaveis. E apesar de ainda escorregar muito pela fé escorregadia e teorreica das palavras começadas com maiusculas, eu sempre me corrijo quando pego-me falando em “realidades fixas” (na verdade creio que elas sejam mais “fixadas do que fixas”) , porque entendo que entre as palavras e as coisas existe, sempre, uma “política do entendimento”, uma “vontade de saber” que nos impele a se ater, também, sobre esse “aspecto de política” onde encontramos nossas mascaras , esconderijos recalcados de quem procura as “supostas verdades escondidas no mundo”.E quem procura e reconhece essas mascaras ainda tá bem, mas quem já tem respostas e ainda esconde que quer esconder certos interesses... ai meu Deus, que prezo tanto por Sua inexistência, tende piedade de Nós.

Entendi mais sobre a “lógica” da “defesa da vida” quando li o e-mail endereçado a nós, povo brasileiro, por um mensageiro-impiedoso-arauto-da-pseudo-inteligência-juridico-religiosa (Via: Idelber) do Deus do Bisbo Endiabrado Dom José do Cão Infernal.

Deus escrevera através Dele. E escrevera em letra Times New Roman. Uma mensagem muito bonita, onde falava que a justiça era coisa invertida. Aborto, sejamos justos, é um crime. Estupro de uma criança, ora bolas, é pecado pequeno. Mandou foto. Pense num Homem Bonito, Barbudo, Inteligente. Com aquela cara dele eu me disse orgulhoso: Homem, Adulto, Macho, sempre no comando!

Sem medo do eco, oremos: Morte Santa ao nosso bispo que defende com tanto vigor a morte santa para os outros...


Ps: O "Vinde a mim as crianças” mais conhecido dos padres, sabemos, é bem outro... o melodrama do aborto , o apelo ao feto morto, tem muito de hipocrisia.

4 comentários:

Bernardo Jurema disse...

pelo menos agora sabemos porque os padres comem meninos! porque não engravidam, então dessa forma ninguém vai pro inferno! :P

mas vc tem que admirar o humanismo do bispo, faria orgulhoso o saudoso Dom Hélder, que é capaz de defender o elo fraco, o pobre estrupador - mera vítima da sociedade, alvo fácil da ira dos seculares! que bravura, que coragem desse bispo!

Anônimo disse...

Esse episódio do bisbo defendendo o estrupador e excomungando médicos, que apenas faziam seu trabalho é absolutamente surreal e mostram como a Igreja Católica estão absolutamente fora da realidade. E são momentos como esses que formalizam, digamos assim, essa fronteira entre o credo medieval de uma certa elite eclesiática e o resto do mundo. Você nunca foi um "comungado" (a não ser que como burocratas do Direito Canônico consideremos que seu batismo documenta seu pertencimento a fé Católica), mas fez questão de se excomungar. O ato em si não realiza nenhuma separação, pois ela já existia de fato. Serve apenas para formalizar essa distância, já existente antes. Mas posições tão surreais como a do Bispo exigem uma tomada de posição clara. Abraço

João disse...

Sou ateu, graças a deus! e apesar de pagao, também pedi minha excomunhao. concordo com o que foi aqui dito, mas nao posso evitar dizer que me parece que o tema nos escapa das maos.
É certo que a igreja católica é tudo isto e muito mais, descompassada, despiedada, anacrônica, machista... pero... o centro da questao é um estupro. católico, evangélico, ou judaico. a tragédia aqui é esta violência, sexista, demolidora, este fato recorrente da nossa realidade. a NOTÍCIA é a excomunhao. com isto nao me ocorre que este ato simbólico nao seja violento, muito pelo contrário. Apenas queria chamar a atençao ao centro, que às vezes sai do foco.
abraço!

slavo disse...

discurso anacrônicos pululam por toda parte, seja de que credo for... a Igreja Católica chama mais atenção pelo fato de ser ela a instituição mais perene da Era Cristã.. o que ingenuamente eu me permito perguntar é se o bispo realmente acredita na posição que tomou ou não passa apenas de velha guerra de poder, desta vez pendente contra a velha Roma, que levou Galileu a abjurar e Giordano Bruno a fogueira..

Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.