sexta-feira, julho 31, 2009

Prêmio Florestan Fernandes: indissiocrasias e instituições na SBS




Eu comentei aqui certa vez minhas impressões sobre o congresso do BRASA que aconteceu ano passado nos EUA. Falei naquele momento das relações de poder entre pesquisadores que, brasileiros ou americanos, dependendo de qual instituição representavam, pareciam se situar dentro de uma relação de dominação muito peculiar, onde os intelectuais fixados em universidades americanas tinham maior relevância e se mostravam impaciêntes com certas práticas oriundas de vícios na forma de pensar tupiniquim.

Pois bem, estou no XIV congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia. E a socialidade dos sociólogos parece revelar aos meus olhos, mais uma vez, as relações também discretas de poder muitas vezes camufladas e apaziguadas pelos ritos formais de apresentação do universo acadêmico.


Silke Weber, FHC e o prêmio Florestan Fernandes



Silke é minha professora na UFPE. É uma pessoa a quem respeito muito, porque exerce com muita seriedade, depois de tanto tempo, as tarefas que lhe são dadas como professora da Pós-Graduação. É esse o lado dela que conheço, o da professora antenta e atenciosa com os estudantes. Acho sim muito comovente o entusiamos com que ela anima o seminário de sociologia do PPGS, que considero por várias razões o melhor momento da formação dentro da pós-graduação em sociologia. Seu discurso, coerente com ela mesma e seus sentimentos, seguiu no seguinte sentido: não entendo porque recebo esse prêmio, porque se fiz algo extraordinário, foi cumprir as tarefas que foram dadas a minha geração de garantir a existência da universadade no sentido de formar quadros capacidados etc... Não lembro ao certo o que foi dito, mas a linha foi essa. O que me emocinou, porque condizia com o que vejo nela.

Fernando Henrique Cardoso. Não vou falar da biografia do príncipe, né? Vou direto a linha do discurso dele: eu aceitei vir receber esse prêmio porque, claro, uma das razões, ele tem o nome do Florestan. Depois com aquela modéstia que lhe é tão característica, disse: para vocês terem uma idéia da minha relação com o Florestan, quando eu era presidente e ele ficou doente, eu fui visitá-lo... etc.

Constraste: Silke se perguntava os porquês de merecer tal prêmio, FHC se dava as razões pelas quais aceitou receber a premiação.

FHC e Silke Weber, que dizem eles de nosso universo de produção intelectual? Esses opostos que podem, é verdade, representar apenas personalidades distintas não poderiam também ser vistos como indicadores de concepções institucionais onde USP e UFPE encarnam suas respectivas representações de si no universo de produção acadêmica? Claro que não, me dirão alguns... o príncipe dos sociólogos quase não ensinou na USP. Depois de sua aposentadoria compulsória, ele nunca mais voltou. Como poderia ele representar isso? É verdade, responderia. Mas a idéia de colocar as coisas dessa maneira me pareceu tão natural quanto a de associar o nome de FHC a da USP que o formou. Aquela mesa USP que ele fala hoje em dia com certo falso desdem, insinuando que não aprendeu nada direito ali porque não entendia as aulas que eram dadas em francês... Aquela mesma USP do Florestan que prezava pelo rigor e a cientificidade... Ah, aquela USP aclamada e invejada pela posteridade que a estuda como verdadeiro pilar da fundação institucional da sociologia no Brasil... Quantos não ditos aí ? Quanto ainda para serem ditos?

Por outro lado como não associar o discurso de Silke às condições particulares de produção do saber sociológico na UFPE? Um departamento que teve sim que se preocupar durante muito tempo com a formação de seus quadros para sua própria manutenção.Um departamento que, excetuando alguns esforços localizados encontrados em textos memorialísticos de Heraldo Solto Maior, não encontra força para reconhecer em si mesmo base para ser pilar de fundação de qualquer sociologia no Brasil. Que obra o PPGS produziu que se tornou referência no Brasil? Já a USP...

Sim, FHC é uma figura autocentrada em si mesmo com requintes egocêntricos megalomaníacos (adoro redundâncias que condizem com a realidade dos fatos). Mas ele representa um estado de espírito uspiano de ser... Como Silke, um modo de ser cefichiano da UFPE. E isso... Digo, e nisso, acho que podemos e devemos pensar.

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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.