sexta-feira, abril 09, 2004

"Cronologicamente a situação era a seguinte: um homem(sujeito) e uma mulher (obejeto) estavam casados"(Clarice Lispector)

Um texto de um não-filosofo
Na UFPE escutei pela primeira vez uma critica clara do positivismo. Lembro bem. Foi numa aula de introdução à Antropologia. Na época, incorporei bem e com entusiasmo àquela postura de negação da "arrogância iluminista", da "pretenção de descrever o real do mundo", do "mito do evolucionismo". Graças a não sei que Deus, não fui até o fim dessa caminhada. Tive oportunidade de rever alguns exageros. E assim, pude ler nessa união matrimonial entre sujeito e objeto, realizada na critica do "objetivismo positivista" , traços de uma arrogancia talvez mais brutal que a precedente.

A arrogância do primeiro consistia numa crença desmesurada na razão e na tecnica. Porém, o mundo restava timidamente uma realidade exterior ao homem que tentava desvendar seus mistérios. Na segunda, se aceitamos certos exageiros idealistas, o mundo existe apenas a partir de uma espécie de dependência entre o sujeito e sua consciência do mundo em questão. A realidade é tida como um dado imbricado ao sujeito/objeto, agora em uno. Ora, na minha opinião tentar descobrir um mundo que independe de mim é mais modesto, digamos, que aceitar uma verdade a qual precisa de mim para existir em si. Não acham?

Mas é preciso afinar ainda mais essa coisa toda. A fenomenologia é mais subtil e refinada e esquiva-se dos antigos quadros de disputa entre o idealismo vs matérialismo(realismo). Husserl faz uma leitura muito fina dos mecanismos de subjetivação e objetivação no sujeito. Constroi um "eu" todo especial para dar suporte a esse novo casamento entre sujeito e objeto. Porém, como diria Clarice Lispector, meu "eu" nunca é esse "em si" que responde livremente e faz escolhas. E é nesse sentido que essa filosofia da vida (mãe do existêncialismo de Heidegger a Sartre) parece tender a um universalismo emagador da historia. Eh assim que ela tenta lutar contra o determinismo forçando a produção teorica desse homem livre, um escolhedor de destinos. Eh engraçado ver como diferentes humanismos tentam atingir o mesmo obejtivo, a liberdade. Marx, por exemplo, também falava em homem como sujeito de sua propria historia. Porém, estudou os mecanismos externos da prisão de homens, produtores internos da ilusão de liberdade. Alain Touraine também fala de sujeito: homem que tem consciencia de sua historicidade. Que enfrenta a fragmentação do "moi" e constroi uma identidade na alteridade. A exceção de Marx, todos leram Husserl... Bem se não leram(falo da Clarice e de Touraine), tudo bem. Tem outro francês que leu, um tal de Michel Henry. Ele escreveu um livro que se chama Marx. Não sei se é irônia: mas é um estudo fenomenologico do barbudo.

Agora que disse todas essas asneiras sem nenhum controle. Termino sem conclusão. Para os que tiveram coragem de ler esses três paragrafos: boa noite.

Nenhum comentário:

Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.