Sobre o 6- Labô-Espetáculo Discute-Cena: Primeiras impressões
Cheguei ao auditório da Livraria Cultura. As exposições já haviam começado. O tema do encontro era Teatro de Grupo: Utopia, Resistência e Renovação. A mesa contava com vários grupos de teatro e, de cabeça, lembro apenas de alguns: Labô-Espetáculo, Totem, Santa Fogo, Marco Zero, Galpão das Artes. Deve estar faltando um ou outro, mas para o que proponho que é comentar e não fazer nenhuma análise com rigorismo ou detalhes, já basta. A idéia é apenas colocar algumas reflexões no papel (tela).
Cheguei ao auditório da Livraria Cultura. As exposições já haviam começado. O tema do encontro era Teatro de Grupo: Utopia, Resistência e Renovação. A mesa contava com vários grupos de teatro e, de cabeça, lembro apenas de alguns: Labô-Espetáculo, Totem, Santa Fogo, Marco Zero, Galpão das Artes. Deve estar faltando um ou outro, mas para o que proponho que é comentar e não fazer nenhuma análise com rigorismo ou detalhes, já basta. A idéia é apenas colocar algumas reflexões no papel (tela).
A sociologia vai dizer: a arte, e dentro dela o teatro, é um conceito normativo. E o que é que isso quer dizer? Quer dizer que existe uma disputa social para designar com legitimidade o que é e deixa de ser arte, o que é e o que deixa de ser boa arte? Mas o que ler de um encontro como aquele? Como explicar a existência de momentos tão dissonantes como a calmaria das exposições e a tempestade do debate?
Num debate como o proposto pelo Labô-Espetáculo, que tinha como mote inicial a existência de grupos de teatro no Recife (e em Pernambuco-com a participação de alguém vindo do interior representando o município de Limoeiro), não há como não aparecer algumas tensões latentes do mundo social específico do teatro. Essas tensões são muito representativas do tipo de realidade (realidade simbólica e material) onde os artistas locais desenvolvem seus trabalhos. (Isso precisaria de longos comentários a respeito do como se reprensentar essa realidade, de como entender seu funcionamento!)
A própria dinâmica de ânimos das apresentações calmas destoando do acalorado debate pode indicar muito sobre o espaço social das artes cênicas no Recife. Onde existe polêmica há luta por legitimação, diria. E isso deveria ser investigado.Mas a título especulativo diria que não deveria causar espanto aos olhos avisados ver o fato dos temas mais disputados terem sido aqueles lidando com a questão da profissionalização das artes cênicas, ou da industrialização, da criação do mercado, do fazer ou não fazer arte sem incentivo fiscal. O que é arte de qualidade afinal? Que tipos de relação e organização do trabalho artístico produzem boa arte?(Essa questão eu acho particularmente interessante) O que é ser ator? O que é profissionalizar-se em arte? O que é ter autonomia? O que é depender de um financiamento?
O campo artístico é um campo socialmente dependente de outros campos e todas essas questões o ligam, de maneira relativamente forte, às lógicas dos campos político e econômico. Essa relação de dependência do campo artístico em relação ao político e ao econômico muitas vezes não é vivida como tal pelos agentes interessados(a classe artistica em geral). Isso ocorre porque o elemento de refúgio da lógica propriamente artística do teatro, que tenta com todas as suas forças inverter os valores dos outros campos para legitimar-se como tal (lembro de Virginia falar sobre alguma necessidade quase instintiva do ator ao trabalhar sua expressão), parece nunca ser o suficiente para manter-se constante, mas mesmo nessa insuficiência ela serve para esconder o sistema de dependência escondido na chamada“necessidade de atuar”. Claro que essas considerações são de ordem muito genéricas a respeito de lógicas que organizam de maneira muito ampla os espaços sociais. Seria preciso entender mais e com mais detalhes a história do campo das artes cênicas e de seus agentes (atores, diretores, cenaristas, etc.) em Recife para poder captar as suas lógicas próprias.
Um exemplo de tensão
Pensar a temporalidade do Teatro de Amadores de Pernambuco e não perder de vista os problemas de legitimidade que o próprio campo artístico propõe, eis uma tarefa a ser feita por sociólogos das artes aqui no Recife. Vejam que o TAP foi discutido a partir de uma comparação entre as lógicas dóceis das relações de trabalho do teatro amador em oposição às competitivas e frias lógicas das relações do mundo profissional, ocultando assim, algo que me parece evidente e que apareceu apenas de modo implícito em algum momento no discurso dos próprios interlocutores: que tipo de valor propriamente artístico (relacionado a noção de valor artístico ao trabalho de elaboração com preocupação de cunho estético, etc. ) se atribui geralmente às produções do Teatro de Amadores de Pernambuco? Atribuir qualidades históricas (de tempo e duração institucional de um grupo) ao teatro não é dar-lhe reconhecimento artístico. Eis uma das coisas que é dureza num debate como esse, e que é facilmente colocada para debaixo do tapete da consciência (seja ela consciência artística ou não).
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