terça-feira, outubro 17, 2006

Comentários sobre La Salamandre (Romance de Jean-Christophe Rufin)

Fazer uma leitura despretensiosa de um romance nem sempre é uma tarefa fácil para quem tenta se dedicar à sociologia da literatura. Para um sociólogo o prazer do texto parece vir não mais de um “entregar-se às tramas” dentro de um esquecimento quase intencional das possíveis suspensões (feitas pelo olhar sociológico) de plausíveis “pactos ficcionais”, mas de um estranhamento continuo com o registro literário que de alguma forma, através da forma para ser mais preciso, traria registros de inteligibilidade especifica do mundo social.
Pois bem, dito isso, convido-me a tentar comentar um romance de Jean-Christophe Rufin lido de maneira leve, na postura do “quase esquecimento” do controle disciplinador da sociologia. O romance chama-se La Salamandre e a trama se passa em Recife. O livro reconta a historia de Catherine, uma mulher cuja vida se organizava em torno do trabalho (ela odiava os domingos), do uso de soníferos, da companhia de um gato, e que vai dar as costas para França para ir morar no Brasil. A capital pernambucana é a cidade que vai servir de pano de fundo para a trama que se desenvolve através do envolvimento de Catherine com Gil, um jovem habitante de uma favela nas proximidades de Boa Viagem.

Meu comentário a respeito do livro é o seguinte

É interessante perceber que com um mote como esse o romancista poderia com muita facilidade cair em “clichê” sobre a condição do turista de primeiro mundo perdido no emaranhado de informações novas a respeito da miséria de um país subdesenvolvido numa cidade fétida do Nordeste. Acredito que ao contrario disso, Rufin consegue construir uma problemática romanesca situando conexões inesperadas entre “misérias ocidentais” fazendo do encontro entre as duas personagens uma ocasião para fugir de uma visão puramente idealizada (exótica ou miserabilista) do terceiro mundo.
Tragédia moderna, livro de profunda dor trazida pelos contrastes extremos entre reconstrução e destruição de si mesma da personagem principal, La Salamandre faz lembrar (ao sociólogo cefchiano que sou) o quão importante é uma simples descrição de ambientes e situações que podem dizer muito das relações das pessoas com o mundo. Das descrições, das informações a respeito da construção da verossimilhança das personagens nas suas relações com os ambientes sociais, de tudo isso se pode tirar lições a respeito desse romance que informa sobre aspectos sabidos, mas de alguma forma ocultos e ocultados da realidade social recifense.
Outra coisa (também meio sociológica), tratando de amor o romance tensiona a temática da liberdade envolvendo aspectos muito interessantes da socialização das personagens. O fato de Catherine seguir uma espécie de lei profunda de seu ser que a leva a se destruir e a se sentir realizada ao mesmo tempo complexifica a trama fazendo um possível maniqueísmo determinista datado funcionar como fonte de “escolhas limitadas” não pelo inelutável destino (do Realismo, do Naturalismo nos termos mais estereotipados), mas por mecanismos ao mesmo tempo pessoais e sociais de tolhimento de condutas onde o mundo e a pessoa humana expressam juntos um doce e amargo conflito.
Vejo que ainda vou ter que lutar mais contra minhas disposições sociológicas para me ater mais ao romance. Quem sabe não volto com outros comentários a respeito do livro numa outra ocasião.
Jampa.

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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.