Recado do Coração: de Jampa, da ur-6, para Drummond de Itabira...
O Amor Antigo
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O amor antigo vive de si mesmo,
Não de cultivo alheio ou de presença,
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.
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O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
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Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porem, nunca fenece
e cada dia surge mais amante.
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Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
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(C. Drummond de Andrade, em Amar se Aprende Amando)
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Drummond, caro Drummond. Porque és um otimista do entardecer desnudas a maturidade sem descuidar da noite. E ai, lendo teu verso, o jovem homem, meio descuidado, não tão vivido em vida, menos ainda em poesia, vislumbra o envelhecer do amor tentando ignorar a causalidade invertida pela posição de teus versos. Ou não seria a causa do amor antigo ter vencido a dor o fato dele mesmo, em tempo remoto, ter sido feito de sofrimento e beleza? Drummond, caro Drummond. Não busco respostas na tua poesia, mas que aqui fique bem dito: o amadurecer de um homem (não sei se o da mulher...) depende do acaso e continuo sofrimento dado pela experiência-amor (e tu dizes isso tão bem, “amar se aprende amando”). Amar é a solidificação do sofrer no tempo.
Obrigado Drummond,
Do eterno amante de sua poesia,
Jampa.
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