terça-feira, julho 31, 2007

Pan, TAM, Pan Boom! De quem é a culpa?



Final de tarde. O compromisso com o mundo de atividades mundanas se esvai com a chuva que começa a cair. Toró. Cordas d’água! Cargas de água. Aquecimento global, penso. Nós humanos, seres imundos que somos. Deu vontade de tomar banho com o molhado que vem do céu. Pororoca sem onda, piracema sem peixe. Menino pulando no asfalto espelhado de lamas. O sorriso desdentado esquecido das faltas, dos problemas políticos, das vitórias e derrotas do Pan, dos desastres de avião. Cadê o menino? Cadê? Ô menino esquecido!

Começo de noite. A toada é dos carros. O mundo idílico não pertence a nós, humanos de tipo brasileiro. A culpa é do lirismo, do nacionalismo, do Lula, do piloto, de Jampa (que quer ser menino!). Do acidente não acidental. Da tragédia não trágica. Dos pássaros que aqui gorjeiam. E dos homens que aqui “habiteiam” e dos que hão de habitar. Da História, a culpa é Dela. Fincou na terra, ficou na crosta, golpeou e solapou o fôlego dos esperançosos. Tudo já está dito. Cadê? Há mais algo a dizer? Ô menino esquecido!

Escombro de enoitecer. Concordes já não voam mais pelos ares, outros baques o desprojetaram do mundo celeste. Discordes vaiaram, concordes não voam mais, que mundo é esse? Esse deveria ser o último parágrafo de quem não tem nada pra dizer desse mundo... mas fracos como eu insistem em gorjeio. Vai, gorjeia como lá, gorjeia! Cadê? Cadê? Já esqueceu?

– Pan, Tam, Pan! Boom!

Que sórdido canto! Seria Assum Preto, cego dos olhos? Escombros de noite. Noite de chuva. Sem culpa. Sem espelho de água em lama preta. Sem nacionalismo. Sem silêncio, a toada é dos carros. Cadê o menino? Cadê o concorde? E o recorde? Sim, o jornal é o mesmo. Mais gorjeio: Pan, Tam, Pan! Boom!

Ironia ou não, no escuro do quarto, no meu colchão de classe média, deito-me ao som de Ludwig Van tocando Pan Pan Pan na televisão... Viro-me. Tento esquecer. Vai ver que a culpa é do aquecimento, do gorjeio (nunca do esquecimento). Do Gorgias de Platão! Do avião. A culpa é da culpa, lá onde tudo é mea culpa. Do reverso, da pista, mais uma vez do piloto, do menino, do cansaço, do “apagão” esotérico supra-lunar dos céus. A culpa é da Fátima Bernardes... é do superfaturamento do Pan, e dos cubanos que, apesar de povo miserável e comunista derrotado, continua na frente no quadro de medalhas...

A culpa é do cu, claramente, que é quem sempre começa a palavra culpa. E a catinga de cu, nunca acaba.

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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.