quinta-feira, julho 17, 2008

O Escafandro e a Borboleta

Como não sou crítico de arte nem de cinema, fico com receio de meu juízo, sempre. Fico me perguntando: o que as pessoas teriam a ganhar com minhas impressões de sentido sobre um filme?

É uma aventura julgar um trabalho como O Escafandro e a Borboleta, do artista plástico Julian Schnabel (1951). Eu o assisti ontem. Não sabia da existência do filme. E acho que eu seria necessariamente incompetente se o meu objetivo fosse dizer algo de realmente interessante sobre o trabalho dele como cineasta. Um olhar mais avisado faz melhor esse trabalho, e deixa a insônia gerada pelo filme com gosto de entendimento. Por isso deixo ao longo do post alguns links com opiniões mais profissionais sobre o filme para os interessados.

Mesmo desavisado me aventuro a dizer algo. Pois a vontade que tive depois do filme foi de soltar o verbo. Queria me desprender dos casulos do medo de dizer as coisas, e castrar esse medo tolo de se mostrar ignorante. Então senta que ai vem história...

O filme fala da vida de Dominique Bauby. Jornalista e pai de duas crianças que sofre um acidente vascular cerebral e entra em um coma profundo. Ao sair, se dá conta que todas as suas funções motoras estão deterioradas. Foi afetado por aquilo que a medicina chama de “loked-in sindrome”, ou seja, a síndrome do encarceramento em si. Na sua nova condição, Bauby não podia mais se mexer, e mesmo a respiração era auxiliada por aparelhos.

O filme lida com história de um quase vegetal: alguém que tinha apenas o olho esquerdo funcionando com dificuldades e sua audição. Os dois sentidos se tornaram a ligação dele com o mundo e com as outras pessoas. Piscando uma vez para dizer "sim" e duas para dizer "não", com o axilio de uma terapeuta consegue elaborar um método de comunicação também pela escrita. A partir de um alfabeto dito em voz alta em função do uso das letras, ele começa a poder “dizer” letras, palavras, sílabas, frases, páginas e páginas.

O filme conta a história narrada no livro escrito pelo jornalista em sua situação de cárcere interno a partir do olhar desse olho. As escolhas de câmera e áudio foram feitas em função dessa situação de aprisionamento, onde os enquadramentos fixos com desajustes no foco trazem a impressão de um olhar que via o que nós víamos enquanto espectadores. O áudio, que traz além do som ambiente a voz de Bauby em off, dá contorno a consciência de si e da situação que são o alicerce da vida que está sendo recontada. Sendo a readaptação mesma do livro, creio que as escolhas cinematográficas feitas foram muito boas. O resultado é que entramos na história como se pudéssemos se colocar na posição de alguém que está numa situação limite, como é o caso real do escritor do livro L escaphandre et le Papillhon. Acho que por isso o filme ganhou o Prix de la mise en scene em Cannes 2007.

Algumas cenas que me marcaram por ordem do impacto que me causaram:


1- Jean-Don (era o apelido de Jean Dominique Bauby) conversa com a amada Inês por telefone. Sua ex-esposa é quem media a conversa. Sem cair na solução piegas que seria colocar Jean-Don como alguém que se arrependeu das escolhas que fez para reencontrar o amor de sua vida inteira, a cena termina com sua ex-mulher lendo no piscar do olho atormentado um dolorido “ eu te espero todos os dias” de Bauby para sua amada.
2- O uso da memória e da imaginação do enfermo. A cena em que ele se imagina jantando ostras com a amada...
3- Os sonhos que representam a solidão, onde ele se vê descendo para o fundo do mar dentro e de um escafandro.


Texto mais profissional a respeito do filme, aqui gente.

É isso por hoje.

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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.