sábado, março 28, 2009

Momento Tese

Caramba, é muito difícil para mim ficar tranquilo no momento de criticar uma obra monumental como a de Luiz Costa Lima. A intranquilidade pode existir por uma série de motivos. Por conhecê-la a pouco tempo, sinto-me constragido de situar meu trabalho com tanta ênfase em contraponto ao que Costa Lima vem defendendo há tanto tempo. Na verdade, o impasse aparece mais nitidamente, o mesmo acontece quanto a Antonio Candido(que conheço a mais tempo) , naquilo que a crítica e a teoria literária relegam como tarefa fundamental para sociologia.
Só consigo concordar com o que ele diz a esse respeito quando do lugar da sociologia (lugar de ponto de vista, de ajuda, de suporte à crítica) consegue-se colocar também no seu devido lugar os lugares da crítica e teoria literárias no mundo social.Existe ainda a hipótese de que o desconforto a cima referido ser fruto do peso de disposições cefichianas ( tomadas emprestadas de sua dinâmica conservadora de pesquisa). Quiça seja apenas o respeito por um caminho sincero e respeitável intelectualmente(o de Costa Lima), o que quero e espero que o meu também seja. Como no debate de idéias, respeito não deve corresponder à submissão passiva de argumentos, penso ver nos meus, quando conseguem se livrar do cefichianismo, momentos interessantes da afimação de uma maneira de ver a sociologia trantando de assuntos literários.
Vejam se concordam comigo. O ponto central do que digo está no seguinte, do que Costa Lima defende comento:
É preciso ter todo o cuidado. Mas está dito: não se pode, ao risco da igenuidade mais ignata, ler textos literários como se fossem documentos. Certo. Ao que tudo indica, com os olhos educados pela crítica moderna, " em termo de modernidade", Costa Lima desqualifica, em razão de uma perspectiva teórica de horizonte normativo (como não poderia deixar de ser?), a quase totalidade de leituras feitas da obra de Graciliano Ramos na época de sua publicação.
No subcapítulo intitulado ' Graciliano Ramos e a recusa do caeté' ( Costa Lima, 2007, p. 437-446), após mostrar a semelhança de uma descrição feita por Graciliano a tantas outras feitas e tidas como " relatos realistas", Costa Lima reafirma o veio e o julgamento que caracteriza seu trabalho:


"[É] evidente a procura de documentar até o detalhe. Mas o tipo de realismo de Graciliano não resulta da fidelidade da apresentação de uma procissão interiorana senão a densidade como a cena se compõe: o absoluto distanciamento do narrador diz de forma sintética e pelas brechas entre as palavras da falsa religiosidade da cerimônia alegórica do desfile de ''destaques''. [...] O descritivismo documentalista é superado pela proximidade da náusea e do grotesco. Essa é uma das poucas passagens de Caetés em que o escritor ultrapassa a mera documentação das aflições do medíocre narrador" (Costa Lima, op. cit., p.442).


É passar os olhos na documentação do Arquivo Graciliano Ramos e perceber que o olhar construído pela teoria literária e pela crítica, ao menos na versão aqui estudada, é, na medida em que tenta afirmar a autonomia da obra como critério de leitura mais correto, um contraponto idealizado da realidade histórica de uma época que, esta, é o que revela a análise dos documentos daquele contexto, leu Caetés com os olhos de um realismo chinfrim (chinfrim aos olhos da crítica dos dias de hoje, entenda-se), sociologizado e pouco afeito às nuances do "realmente ficcional" da literatura.
Se
rá que estou extrapolando minha função de sociólogo?

Costa Lima, L. A Trilogia do Controle (2007), Topbooks, Rio de Janeiro.

2 comentários:

Cesar disse...

Jampa, não há motivo para ter tantos dedos em relação a Costa Lima. Veja o trabalho dele como bem feito, e provocador, e extamente por isso, convidativo ao diálogo e ao debate. Os melhores trabalhos são aqueles com os pressupostos e teses mais polêmicos. Acho que nesse diálogo com Costa Lima você está muito bem munido de argumentos e evidências empíricas para fazer uma série de contrapontos interessantes. Força aí! Abraço!

Jampa disse...

Cesar, uma pergunta em relação a esse seu comentário... Ele foi feito em relação a minha hesitação, né? Porque eu acho meu argumento tão contundente que fico achando que devo moderá-lo só por principio e precaução... Eu acho que esse medo vem do impasse que é o de fazer algo "daqui". Viralatismo, mas vai passar. Sim, obrigado pela força. Abração.

Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.