Caramba, é muito difícil para mim ficar tranquilo no momento de criticar uma obra monumental como a de Luiz Costa Lima. A intranquilidade pode existir por uma série de motivos. Por conhecê-la a pouco tempo, sinto-me constragido de situar meu trabalho com tanta ênfase em contraponto ao que Costa Lima vem defendendo há tanto tempo. Na verdade, o impasse aparece mais nitidamente, o mesmo acontece quanto a Antonio Candido(que conheço a mais tempo) , naquilo que a crítica e a teoria literária relegam como tarefa fundamental para sociologia. Só consigo concordar com o que ele diz a esse respeito quando do lugar da sociologia (lugar de ponto de vista, de ajuda, de suporte à crítica) consegue-se colocar também no seu devido lugar os lugares da crítica e teoria literárias no mundo social.Existe ainda a hipótese de que o desconforto a cima referido ser fruto do peso de disposições cefichianas ( tomadas emprestadas de sua dinâmica conservadora de pesquisa). Quiça seja apenas o respeito por um caminho sincero e respeitável intelectualmente(o de Costa Lima), o que quero e espero que o meu também seja. Como no debate de idéias, respeito não deve corresponder à submissão passiva de argumentos, penso ver nos meus, quando conseguem se livrar do cefichianismo, momentos interessantes da afimação de uma maneira de ver a sociologia trantando de assuntos literários.Vejam se concordam comigo. O ponto central do que digo está no seguinte, do que Costa Lima defende comento:
"[É] evidente a procura de documentar até o detalhe. Mas o tipo de realismo de Graciliano não resulta da fidelidade da apresentação de uma procissão interiorana senão a densidade como a cena se compõe: o absoluto distanciamento do narrador diz de forma sintética e pelas brechas entre as palavras da falsa religiosidade da cerimônia alegórica do desfile de ''destaques''. [...] O descritivismo documentalista é superado pela proximidade da náusea e do grotesco. Essa é uma das poucas passagens de Caetés em que o escritor ultrapassa a mera documentação das aflições do medíocre narrador" (Costa Lima, op. cit., p.442).
É passar os olhos na documentação do Arquivo Graciliano Ramos e perceber que o olhar construído pela teoria literária e pela crítica, ao menos na versão aqui estudada, é, na medida em que tenta afirmar a autonomia da obra como critério de leitura mais correto, um contraponto idealizado da realidade histórica de uma época que, esta, é o que revela a análise dos documentos daquele contexto, leu Caetés com os olhos de um realismo chinfrim (chinfrim aos olhos da crítica dos dias de hoje, entenda-se), sociologizado e pouco afeito às nuances do "realmente ficcional" da literatura.Será que estou extrapolando minha função de sociólogo?
Costa Lima, L. A Trilogia do Controle (2007), Topbooks, Rio de Janeiro.
É preciso ter todo o cuidado. Mas está dito: não se pode, ao risco da igenuidade mais ignata, ler textos literários como se fossem documentos. Certo. Ao que tudo indica, com os olhos educados pela crítica moderna, " em termo de modernidade", Costa Lima desqualifica, em razão de uma perspectiva teórica de horizonte normativo (como não poderia deixar de ser?), a quase totalidade de leituras feitas da obra de Graciliano Ramos na época de sua publicação.No subcapítulo intitulado ' Graciliano Ramos e a recusa do caeté' ( Costa Lima, 2007, p. 437-446), após mostrar a semelhança de uma descrição feita por Graciliano a tantas outras feitas e tidas como " relatos realistas", Costa Lima reafirma o veio e o julgamento que caracteriza seu trabalho:
"[É] evidente a procura de documentar até o detalhe. Mas o tipo de realismo de Graciliano não resulta da fidelidade da apresentação de uma procissão interiorana senão a densidade como a cena se compõe: o absoluto distanciamento do narrador diz de forma sintética e pelas brechas entre as palavras da falsa religiosidade da cerimônia alegórica do desfile de ''destaques''. [...] O descritivismo documentalista é superado pela proximidade da náusea e do grotesco. Essa é uma das poucas passagens de Caetés em que o escritor ultrapassa a mera documentação das aflições do medíocre narrador" (Costa Lima, op. cit., p.442).
Costa Lima, L. A Trilogia do Controle (2007), Topbooks, Rio de Janeiro.
2 comentários:
Jampa, não há motivo para ter tantos dedos em relação a Costa Lima. Veja o trabalho dele como bem feito, e provocador, e extamente por isso, convidativo ao diálogo e ao debate. Os melhores trabalhos são aqueles com os pressupostos e teses mais polêmicos. Acho que nesse diálogo com Costa Lima você está muito bem munido de argumentos e evidências empíricas para fazer uma série de contrapontos interessantes. Força aí! Abraço!
Cesar, uma pergunta em relação a esse seu comentário... Ele foi feito em relação a minha hesitação, né? Porque eu acho meu argumento tão contundente que fico achando que devo moderá-lo só por principio e precaução... Eu acho que esse medo vem do impasse que é o de fazer algo "daqui". Viralatismo, mas vai passar. Sim, obrigado pela força. Abração.
Postar um comentário