quarta-feira, outubro 28, 2009

Caxambu em fragmentos 2

Chego à sala vazia. Aos poucos as pessoas vão chegando. Capto conversas desconexas sobre um assunto ou outro. As pessoas se conhecem entre elas. Sorridentes, felizes do reencontro.

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E eu só nesse mundo.


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O GT de pensamento social é um antro feudal da intelectualidade brasileira. Estão todos falando a mesma língua (do pensamento social)? Não importa. É a sociabilidade e não os embates intelectuais que apontam meu desconforto.

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O lugar pode ser descrito como um feudo. Um lugar onde quando os plebeus se arrogam a falar algo, as "besteiras" ditas transparecem no desconforto dos "Senhores" que se apressam a dizer "pode finalizar essa pergunta", o que logo minha tecla sap traduziu por: "vamos discutir algo realmente interessante". Para mais a frente completar: “algo no nosso nível de apreensão”.

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Isso deveria parecer natural para mim. Deveria. Afinal, nas regras do jogo acadêmico, o que está realmente em jogo, ou seja, a qualidade argumentativa própria do "pensamento social'' ali posto, deveria ser tido como prioridade. É verdade, deveria me dizer, não vamos peder tempo com perguntas tôlas e sem sentido. Isso faz parte de uma lógica de produção que gera excelência no pensamento.

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Mas aquela sociabilidade me deixou a flor da pele, angustiado: o que é aquilo? Que desconforto é esse?

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Os trabalhos foram bons, de alta qualidade, mas algo que não saberia descrever bem me incomodou profundamente, mais do que em outros congressos que participei. Sim, as exposições foram muito cuidadosas, com intelectuais experientes, talentosos e porque não dizer: eruditos.

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Eu achava que estava preparado, mas nem na França vi semelhante imagem de autoreferenciamento coletivo. Não é intextualidade. É o comportamento das pessoas entre elas que evidencia a forma endogâmica de um grupo que pouco se mistura, ou, para dizer o mínimo, se se mistura, só o faz com alguns “iguais”.

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Eu entrei mudo e saí calado nesse primeiro dia. E meu calar tão raro nessas ocasiões onde os temas me são tão caros tem a ver com meu espanto em ver de maneira tão explícita a segregação regional da sociologia brasileira. USP, UNICAMP, PUC, definitivamente não são em nada parecidas com as uefepeéis da vida.

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Leopoldo Waizbort apresentou um trabalho novo dele sobre Villa Lobos, solicitando uma leitura formalista da obra do compositor... Segundo comentário dele, já respondendo as perguntas, esse trabalho de conhecimento substantivo da obra é fundamental para garantir um equilibrio entre as análises históricas (segundo ele hegemônicas no caso dos estudos de Villa Lobos) e as análises formalistas.

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Outro trabalho que eu gostei foi o de Paulo Renato Guérios. “O uso de trajetória de vida como estratégia de análise sociológica: o caso de Heitor Villa Lobos”. Aqui minha percepção se concentrou mais no trabalho de reflexão metodológica do autor que lidava com uma reflexão a respeito das formas de integrar estudo de trajetória e o contexto social. Isso a partir de uma comparação entre os estudos de trajetória sociológicos e algumas interpreções de Villa Lobos que levavam em conta seu contexto social.

Um comentário:

Luiz Pinto disse...

Jampa
esse desconforto é dureza mesmo. Eu o senti quando fui a Caxambu ainda no avião que me levava e depois no aeroporto, lá. Senti primeiramente de forma velada e indireta nas pessoas daqui de Pernambuco e de outros estados do nordeste: o comportamento dessas pessoas, que já haviam participado de outras edições do encontro, mudou claramente. Uma mistura de medo e de mimetismo (basicamente de reprodução das posturas, dos círculos, dos 'somos mais iguais'), coisa estranha mesmo.

Confesso que me senti acanhado com aquele clima todo, que pelo que vc descreve é muito parecido.

abraço.
Lula

Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.