sexta-feira, março 05, 2004

Mais Oxymore
Quase duas da madrugada. Estou em Paris e sem sono. Intraquilo com um mestrado impossível: o meu. Desgotoso de minha impaciência, imagino um cigarro. Tento acreditar que ele tem valor terapeutico. Um problema se revela: não fumo. Dificuldade pouco séria já que era nicotina imaginada, pouco real. Quase duas da madrugada e tento salvar em pensamento alguns contos chatos de Graciliano. Paulo Honório me vem à mente. Esqueço os contos. Acho que o grande mistério de Graciliano é o da concisão. A palavra foi feita para dizer, dizia ele numa espécie de falsa tautologia. Eu diria dele o que Bourdieu disse de outros: os escritores mais estranhos em aparência aos valores da arte pura a reconhecem de fato: verificamos isso apenas no ver suas maneiras sempre um pouco envergonhadas de a transgredir. Em obra do autor de Vidas Secas palavra não é enfeite, porém sem dúvida a contenir virou estilo, findou-se estética. Paradoxo. Nome de titulo de blog: oxymore!
Acho que já passam das duas. Amanhã cedo tenho um encontro com um amigo japonês. Faleremos sobre o trabalho dele. Coisa esquisita. Loucura própria à "sociologia" de Montpellier. Ele é orientado por Jean Marie Brhom: um professor impressionante e polêmico. Um erudito herdeiro de sequelas de mai 68. Bem, é assim que o vejo. O cara é também ele um "oxymore": reivindica o freudo-marxismo e é crítico da teoria crítica (isso me faz lembrar um texto do jovem Marx que li quando cheguei à Nancy intitulado Crítica crítica da filosofia crítica ). Funde fenomenologia e ruptura epistemológica de maneira esquisita, nunca entendi. Se reformulo imagino que o que entendo resultaria uma formula do tipo seguinte: defendo uma crítitica acritica da sociologia crítica. Ou seja: um oxymore!
Acho que já passa e muito das duas. Fico por aqui.

Nenhum comentário:

Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.