quarta-feira, junho 02, 2004

De tudo um pouco: uma bagunça

Madrugada fria e sem molho no interior da França. Depois de ler o relato-desabafo de Dado sobre alguns "erros" jornalisticos continuo na frente dessa tela que perde em brancura para poder virar texto, uma violência. Tinha assistido na TV francesa um debate sobre o terrorismo.Ontem postei algo sobre a morte. Tudo parece trágico, medonho, tinhoso.

Mas sinto-me paradoxalmente cheio de força para a vida. Talvez nunca tenha tido em minha existência período de tamanha vontade interior de viver. Desejo de abraçar o mundo. Não apenas com ciência, mas com política. Não apenas sabendo-o como é, mas desejando-o como poderia ser se... E a morte nunca esteve tão próxima de meus pensamentos. E jamais senti-me tão perto dela. Sim. E parece ser mais verdadeira a vida medida pelo valor da perda. Perco pouco a pouco o medo da dor. Não por costume, mas porque vive feliz quem consegue comparar sofrimento e alegria aceitando-os como plenitude do ser.Nitszcheano dirão alguns. Talvez. Porém já havia sido mais quando lia nas escuras da adolescencia as palavras cortantes do filósofo alemão. Hoje sinto-me distante das coisas sintomáticas desse tempo. Longe do falso paradoxo entre visões do mundo mais otimistas e pessimistas à Bernardo Jurema: o copo está meio cheio ou meio vazio BJ? Como se o meio isso não fosse já e por definição o meio aquilo. Nem precisar sair da lógica formal é preciso para parar de brincar com coisas sérias. Sei. O copo pela metade não muda o mundo. Mas se ele ajudar a Bernardo a não cair no golpe jornalistico do relativismo do ponto de vista, seria já uma alma burguesa salva do inferno da doxa infra-ideológica do homorelativiticus! E ver Dado querer lutar pela verdade é um prazer. Pois para isso é preciso sair também dessa lógica do cada qual com seu ponto de vista. Nem toda verdade é construida de mesmo modo nem com as mesmas astucias... Jornalistas não criam fatos, muito menos verdades. E as palavras, mesmo não sendo apenas palavras, sabemos a força que elas podem ter, não são correlatas imediatas nem do fato nem da verdade. Daí a palavra ter mais força quando dita de certos lugares sociais, daí a imporância de saber quem diz o quê e aonde, de onde ele diz(em qual jornal, por exemplo)...
Sim. Sinto-me forte. Mais ainda porque penso em fazer pouco. Dar aulas, praticar minha profissão. E fazer política como sempre fiz. Do meu jeito, falando com as pessoas. Discutindo filosofia barata, sociologia de três tostões. Trabalhando com uma profunda motivação interior. Fazendos das questões do mundo minhas questões e das minhas questões questões do mundo. Meu trabalho foi já antes da defesa bastante elogiado. Se tudo der certo, ano que vem posso começar um doutorado. Não me imagino doutor de nada. Ontem me peguei foi em sonho ensinando escolas primárias,adolescentes do segundo grau. Vendo naqueles meninos brutos um reflexo de minha adolescencia(bruta, até ela!). Via-me em sala de aula reconhecendo-me neles, na impossibilidade deles de aprender com os livros, com os números. E como um Graciliano criando Fabianos e Paulo Honorios a sua imagem e semelhança (com qual fineza Graciliano usa a escrita restrita de Paulo Honório como sendo uma projeção objetivada de seu própio estilo denso e utilitário-"a palavra foi feita não para enfeitar mas para dizer"), vi-me dizendo palavras minhas, exortando minhas malditas dificuldades, triunfando ao jogar uma ignorância contra aquelas tantas outras. Sinto-me forte sim. E cheio de amor arrogante e católico. Amor pelos fracos. Decadence! Diria Nietszche. Não me importo. Do Anticristo guardo comigo a impaciência do filósofo para com a hipocrisia sacerdotal. Também não é a fraqueza dos fracos que é produtora de minha misericordia(digamos assim!).
Estou quase cansado desse escrito mal redigido. Estamos por aqui nas vesperas da comemoração do Dia D, 60 anos. Ainda guerra. Meus conhecimentos de história da
Segunda Guerra são tão profundos que me atenho a dizer: os primeiros 20 minutos do Em busca do soldado Ryen é de um realismo terrivel.
Michael Moore é tão idiota quanto Bush.(Dizer isso choca alguém?)
Michael Jackson é inocente: ele nunca comeu niguém, muito menos criancinhas.(Dizer isso choca alguém?)
O terrorismo é uma forma de guerra como qualquer outra.( Dizer isso choca alguém?).
Vamos lá gente força. Com Vampiros ou sem eles, com simplicidade e sem moralismo, a gente chega em algum lugar. Se for no inferno, levamos uma aguardente pro diabo... Se for no céu, pode deixar que eu me ocupo do vinho: tem um tal de Chateau neuf du pape, é um verdadeiro milagre!
Droga: deve realmente existir mais entre o céu e terra do que nossa vã filosofia... Ai de nós!

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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.