sábado, janeiro 08, 2005

As perguntas


A Padaria Espiritual foi um grupo literário que existiu no fim do século XIX, em Fortaleza. Existindo em época de grandes transformações estruturais da sociedade brasileira(o programa de instalação da Padaria Espiritual apareceu em maio de 1892 quando República e Abolição eram novidades apreciáveis), o exemplo desse grupo pode servir de indicador das alterações nas maneiras de pensar e agir dos agentes socio-culturais do período.

Como?(Indicações)

A Padaria é o primeiro reagrupamento literário fundado depois da proclamação da República em Fortaleza. E isto, nos diz Nobert Bandier, reforça o traço característico dessa agremiação com relação às outras naquilo que ela aparece como "imediatamente associada à transformação ideológica e cultural do movimento repuplicano no Brasil". E com efeito, encontramos em Antônio Sales, principal organizador da Padaria, a opinião de que existia uma feição boêmia gerada desde os primeiros dias de República gerando alí (no Café Java na Praça Ferreira, onde os integrantes da Padaria se encontravam)o ambiente proprício para "trocas de impressões sobre arte, os comentários sobre leituras". E é pensando nessas indicações que se tenta (re)traçar os "efeitos simbólicos da proclamação da República em Fortaleza". Num colóquio sobre o assunto, foi da relação entre duas formas de cultura, uma de inspiração oral e outra ligada à escrita,que o sociológo "lionais" propunha a hipótese segudo a qual a "modernidade" do período acusa as tensões entre as duas formas de cultura num momento em que a instauração da República reativa dentro do campo intelectual toda uma série de outras contradições.E é de nosso interesse seguir tal pista reorganizando a problemática da modernidade a patir das relações entre formas de cultura em ângulo diferente, redimencionado a compreensão do significado das contradições existentes e caracterizando as tensões socio-culturais enraizadas também na textura de nossas escolhas teóricas...

Para isso, antes de vislumbrar um encaminhamento analítico para o estudo do grupo em questão é preciso, ao meu entender, confrontar-se às dificuldades imbrincadas à escolha da orientação teórica tomada como pano de fundo do estudo ainda em estado de projeto. Força da envidência com a qual incorre em erro o fato de rejeitar, esquecer ou ignorar precauções com relação ao fator de inclinação ideológica com o qual lida qualquer sociologia ao se deparar com a construção de seus objetos, por mais neutros que possam parecer. Particularidades socio-culturais brasileiras constituem assim, naquilo que elas implicam por "antecipação" decorrente do esquema analítico escolhido, uma reflexão sobre a autonomia nos mais diversos sentidos da palavra.

Nesse sentido tentaremos nos escrever em duas frentes teóricas de teor empírico.
Uma Primeira se propondo a realizar o aparante truísmo bourdieusiano se servindo do método comparativo, para comparar: "Analisar diferentes campos(religioso, político, científico, etc.), nas diferentes configurações em que eles podem se encontrar segundo às tradições nacionais, tratando cada um deles como "caso particular" no sentido verdadeiro, ou seja, como um "caso exemplo" entre as configurações possiveis, é conferir toda eficacidade ao método comparativo". Nssa primeira frente o que está em jogo são as modalidades de construção do campo enquanto conceito operacional, o como considerar os elementos objetivos (posições existentes no espaço social, instituições, etc.) e os elementos subjetivos(tomada de posição, estratégias dos agentes,etc.). Uns e outros devem responder nos seus efeitos heuríticos as exigências da especifidade do caso particular enquanto tal.

A outra frente pode ser vista como complementar à primeira. Ela consiste em dar estabilidade a analise comparativa introduzindo uma reflexão "ad doc" que dê suporte às limitações indicadas pelo tema da autonomia relativa do campo seja ela vista como dado objetivo ou objetivo visado pelo grupo a ser analisado. Ela se insere na reflexão sobre a alternância e/ou ambivalência entre miserabilismo e populismo em sociologia e literatura quando se trata de trabalhos sobre temas nos quais deve-se escolher entre análise ideológica(que é cunho sociológico, estudos sobre formas de dominação) e análise cultural(de cunho digamos assim, antropológico: trantando em relativismo cultural, em termos de autonomia cultural,etc.). O primeiro tipo analítico toma como elemento crucial do real a ser estudado a dissimetria do social e o segundo a simetria interna (cultura) do mesmo. Um e outro nunca se apresentam em estado puro e transitam em alternância e ambivalências pelos textos a fora. Lições dessa tensão devem incorrer da natureza mesmo da Padaria Espiritual que, querendo dar pão de espírito ao povo cearence, parecia querer defender uma arte em sua autonomia artística. Um jornal(O pão)foi criado como forma de expressão da Padaria, e não uma revista literária. Populismo? Se sim, em que sentido? Existe traços daquilo que Sergio Buarque chamou de cordialidade na proposta mesma da Padaria? As questões a tratar são muitas: que é que ser intelectual para um brasileiro intelectualizado da época? O que é o povo para ele? O que é ser intelectual para alguém não escolarizado? Em que a resposta a essas questões podem ser importantes para a consideração das modalidades de constituição do campo intelectual e o entendimento por meio do estudo da Padaria da configuração social local da época?

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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.