domingo, fevereiro 06, 2005

Blogue, Visita de Ton e coisas da vida


O tempo é de resignar. Minha teimosia era a de querer tratar de maneira insuportável das coisas simples. Fui teimoso para não ser reconhecido como blogueiro fajuto, daqueles que aceitam a facilidade de agradar e querer ser amado pelo resultado da carícia textual produzida. A pequena história do meu blogue é uma marca do esforço gorgico para reter a separação entre sedução e argumentação, retórica e ciência, doxa e episteme, derme e epiderme. Vontade tôla e vã de invadir o mundo alheio, de tonar o espaço cibernético um pouco menos repetitivo, de contrariar os "não dá para ser de outra forma" ou "é isso mesmo, é assim mesmo, tinha de ser assim", e, a contragosto, ir infligindo às normas ditadas pelos "esse espaço não é para isso", "niguém suporta ler esse tipo de coisa", "você acha que as pessoas podem entender palavras dificeis", "isso é muito intelectual", etc.

A maioria dos "posts" foram escritos de maneira livre. Mantinha como rigor apenas o esforço de reflexão a respeito do que se ia dizendo. Nos textos mais chegados à crônica, a idéia implícita era de situar e reorganizar fragmentos de minha memória para uma confrontação com o universo mais literário, ou seja, quis dar forma ao conteúdo mal estruturado de minas recordações. Mas a consciência dos meus limites objetivos no lidar com a lingua portuguesa foram minando a boa vontade e o espírito de partilha presentes no intento. A lição fica: quem desse mundo não espera apenas agradar, aprende que, pelo rumo das coisas, a quem ele não agrada, agride.

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A vinda de Ton à Nancy foi muito agradável. Encontrar um amigo o qual a muito não via dá-me sempre a boa impressão de ver no velho algo novo. Não que ele parecesse envenlhecido, mas nossa amizade começa a fazer seus decênios. E com isso, a ausência acompanhada da distância move nosso olhar na busca de confrontar o presente à lembrança, à memória. O resultado disso é a sensação de ver no mesmo o outro, um claro renovar da amizade.

Engraçado foi perceber os pequenos atritos devidos às formações acadêmicas disntintas. Um Ton físico e um Jampa sociólogo. Dois maristados formatados por caminhos rigorosamente diferentes. Deus nos acuda para as incompreensões mutuas. Leituras de mundo dissonantes, ligadas entre si pelo fio tênue da camaradagem e do respeito. " Preste atenção querid[os], o mundo é um muinho", tinha em mente quando conversavamos, maneira de me conformar. Pois, bom ou mau sociólogo que eu seja, sei bem da posição de "inferioridade acadêmica" da minha disciplina em relação à dele. Expeterza sociológica ou não, o certo era a alegria de vê-lo aplicado ao trabalho científico, sonhando com pés no chão com a carreira que tão bem começou.


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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.