quinta-feira, agosto 07, 2008

Sobre Very Important News

Eu gostaria de comentar rapidamente um blogue de uma amiga que muito me intriga. O Very Important News reune notícias inúteis e esdruxulas. Trabalhando “apenas” com uma seleção de “ notícias cujo título já vale a manchete” a autora usa o bizarro, o curioso e o duvidoso, como elementos que se coadunam para dizer o mais importante de uma notícia: sua “verdade”.


Claro, trata-se de algo humorístico. Claro, as notícias não são “sérias” e são encontradas na rede em locais reservados à “bizarrice” e às “futilidades”. Mas não deixa de ser interessante de ver essas notícias duvidosas, estranhas, fúteis, agora todas selecionadas e reunidas num só local, de ver como elas elaboram, pelo simples fato de estarem reunidas, um dialogo grotesco com o jornalismo em geral, onde a seriedade e o pitoresco se misturam tão comumente com o nosso bizzarro jeito de entender o que sejam as “verdades no mundo”.


Resumo: o efeito que a leitura de tantas coisas desprovidas de “seriedade” juntas dá é muito interessante, e eu gostaria de fazer uma pequena digressão (tragicômica?) a respeito.



Da futilidade e do questionamento da utilidade do inútil


Se eu fosse filósofo teria futuro. Com um título como esse poderia concorrer a muitos prêmios pelo bom uso de oximoros para introduzir textos desprovidos de interesse sociológico. Mas deixemos isso de lado. Meu sucesso em filosofia muito dependerá de minha aguçada sensibilidade para deixá-la de lado. Pois bem, o fato não filosófico que nos interessa é que uma pergunta decorre da inutilidade aparente dos fatos inúteis quando estes são descritos num meio de comunicação de grande alcance: para quem e para que serve saber que “banheiro para transexuais é sucesso em escola na Tailândia”?
Vou reformular essa questão de maneira mais teórica e ao mesmo tempo mais concreta. Vejamos.

É útil saber que um oximoro (figura de retórica que consiste em reunir, no mesmo conceito, palavras de sentido oposto ou contraditório — como dizer do silêncio de alguém que este é expressivo, um “silêncio expressivo”) não é um oxiúro (que é um verme que faz os seres humanos coçarem sem paz suas respectivas regiões “oiticias” – claro, a coceira só ocorre quando se está parasitado pelos ínfimos nematodes)? Ora, acho que seja importante o discernimento entre as duas coisas para algumas classes de seres humanos: a começar pelos filósofos, passando pelos sociólogos e pelos poetas (principalmente os poetas sociólogos ou os sociólogos poetas), caminhando pelos críticos de arte, todas essas categorias de seres, não tem o direito de confundir sem conseqüências intestinais uma figura de linguagem com um verme.
Bem, concordando com isso que digo temos que inferir o seguinte: o discernimento é uma categoria não-universal, que depende de classes e classificações historicamente situadas, mesmo que a verminose não escolha o funiculau onde vai parasitar.

Nesse sentido voltemos ao nosso site (eu adoro fazer transições bruscas): “Chefe proíbe cueca e calcinha suja no trabalho” nos diz uma outra manchete interessante. Só uma pessoa com discernimento entre a forma literária e a realidade do intestino contaminado com oximores poderia achar sem interesse uma matéria tão importante. Na matéria vemos que o senhor Milomir Gligorijevic, chefe de uma empresa servia, afirma que “ficou de saco cheio de ver pessoas sem higiene pessoal básica”. Notem: saco cheio e não saco sujo, o que seria uma contradição em termos e não um oximoro. Sendo um homem de empreendimento, ele não ficou de mãos abanando cabisbaixo com a sujeira alheia: “enviou um memorando que alerta para os profissionais escovarem os dentes, tomarem banho e trocarem a roupa íntima, todos os dias. Ele ainda não sabe se a medida é seguida, mas alertou que ela pode ficar ainda mais rígida.”


Um homem de negócios desse calibre sabe dos efeitos dos oximoros intestinais, como também, para não pensarem que estou filosofando, dos oxiúros retóricos que infectam a inteligência de tanta gente.


Dito dessa forma fica fácil entender porque o Very Important News é tão visitado por mim: rir de suas próprias vermes é uma maneira também de pensar sobre as consistentes inconsistências do mundo que nos cerca. Um mundo sério e obtuso esse nosso. Risível.
Estaria você lendo o oxymore?
Ps: não citei o nome da moça minha amiga porque, não tendo no próprio site o nome dela, não me senti autorizado.

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Quem sou eu (no blogue)

Recife, Pernambuco, Brazil
Aqui farei meu diario quase intimo. Mentirei quando preciso. Escreverei em português e, mal ou bem, seguirei com certa coerência as ocilações do espirito, carater e gosto. Desprovido de inteligência precisa, justa será apenas o nome da medida que busca o razoavel no dito. Esperançoso. Jovem gasto, figura preguiçosa e de melancolia tropical sem substância. Porém, como já exprimido em primeiro adjetivo, qualificado e classificado na etiqueta quixotesca. Com Dulceneas e figuras estranhas o "oxymore" pode ser visto como ode a uma máxima de realismo outro do de Cervantes: "bien écrire le médiocre", dizia Flaubert. Mediocres serão meus dizeres. Bem ditos, duvido. Por isso convenho: os grandes nomes citados não devem causar efeito de legitimação. E previno: o estilo do autor das linhas prometidas é tosco, complicado e chato. O importante é misturar minha miséria com outras. Assim o bem dito será o nome de uma vontade de partilhar uma condição e não o da sutileza formal. A bem dizer, aqui findo com minha introdução.