"Toda vez que resmungo contra a objetificação e a humilhação da mulher nos filmes pornô, tomo o cuidado de escrever “pornô mainstream”. Que é o pornô feito pela “Hollywood xxx” norte-americana, uma indústria multibilionária, e as pequenas empresas que os copiam — tipo o “brasileirinhas”. Estes são os filmes mais conhecidos e acessíveis. Neste tipo de filmes, é comum que a misoginia role solta. É comum que a mulher seja tratada como menos do que uma lata de lixo. Tanto na frente das câmeras quanto nos bastidores. Robert Jensen, da universidade do Texas, fez uma ampla pesquisa sobre o assunto e detalha como isso acontece. Não é a primeira vez que eu linko os artigos dele. Recomento MUITO, embora você precise de estômago para ler. Na primeira vez que li, me senti tão mal pelas mulheres das quais ele fala que chorei feito uma pateta na frente do computador.
No entanto, é como eu disse naquele post ali abaixo. A gente tem de saber contra o que se está lutando. Objetificação, violência e discriminações são consequências da misoginia. Misoginia que nós aprendemos e internalizamos ao sermos submetidos às normas arbitrárias de gênero: “mulher de verdade se porta assim, homem de verdade se porta assado. Todo o resto será marginalizado”. Para acabar com um mal, é necessário cortá-lo pela raiz. Por isso que eu digo que a luta feminista é contra a cultura, não contra os veículos através dos quais esta cultura é reproduzida e reforçada. Nossa luta não é contra a pornografia. É contra a misoginia no mercado pornográfico. São coisas diferentes. Favor não confundir alhos com bugalhos.
Defender o fim da pornografia porque há uma caralhada de filmes misóginos, para mim, faz tanto sentido quanto defender o fim da publicidade porque há uma caralhada de propagandas misóginas. Ou defender o fim do cinema porque há uma caralhada de obras misóginas. Ou o fim da literatura porque há uma caralhada de livros misóginos. E assim por diante."
4 comentários:
Jampa,
Ja havia lido o blogue da Marjorie antes. Confesso a voce que anos e anos convivendo com feministas radicais aqui nos EUA fizeram identificar o sotaque da matiz "moralista puritana" em tantos de seus discursos. Embora a Marjorie tente fazer uma analise bem mais sofisticada, acaba caindo num moralismo bem maniqueista. Talvez seja pela minha educacao protestante, criei alergia a esse tipo de pensamento. Abracao
Cesar,
eu fiquei curioso de uma coisa. Qual é o moralismo maniqueista da tentativa de ler a complexidade da expressão pornográfica? Pergunto isso porque eu percebo com dificuldade. Meu pé atrás com outros textos que li dela, estava mais em toda base reflexiva teórica de enquadramento dos temas (Marcuse e CIA). Mas nesse texto específico ela se atem a elementos muito interessantes como o fato da objetivação do corpo funcionar em algumas situações como elemento de liberação... Bem, mas fico num arguardo para entender melhor sua rejeição. Estou bastante curioso.
Abração.
Concordo com o César [as vezes acontece, kkk],
Acho que embora o texto dela procure ir além, acho que a leitura de que o "pornô mainstream" é apenas uma objetificação e humilhação tem um viés moralista que seria válido como visão individual, ou de um grupo de indivíduos/comunidade, mas não numa leitura que se pretenda como parece ser o caso digamos "científica" ou "isenta", se vocês me entendem. Não acho que esse padrão de "ação" do pornô em questão seja uma relação de dominação unilateral, há uma parcela sensível de escolha, de jogo.. me parece que a negação peremptória parece elemento de contenção puramente intelectual, onde se escondem muitas vezes outras possibilidades de libertação.
Jampa, foi como te falei. No cazzo tem o resumo. O texto na íntegra coloquei no meu blog. Abraços, Sheila.
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